15 de maio de 2011
São possíveis ações mais integradas entre a escola e as demais instituições que formam,-protegem a infância e a juventude?
Nós, educadores, sabemos que os desafios são maiores para nós, na conjuntura atual; o mundo da tecnologia tem trazido coisas boas para a sociedade, mas a tendência é buscar estas coisas como fins em si, para dar sentido para a nossa vida, e isso deixa um vazio grande em nosso coração. O dinheiro, o prazer, a fama, o poder, a informática, o celular, as coisas materiais, são meios para realizar a nossa vida aqui na terra, mas a sociedade quer absolutizá-los como deuses e colocá-los no lugar do Deus verdadeiro. A televisão promove os seus próprios valores que pouco combinam com os valores humanos, familiares e espirituais; valores que promovem a pessoa humana como um todo: corpo, mente e espírito. Nós, educadores, temos a missão de conduzir a infância e a juventude para o caminho dos valores que levam ao encontro do Deus de Jesus Cristo. Quero contar duas experiências que podem nos ajudar nesta reflexão.
A primeira experiência foi com a fundação da PaMen aqui em Santarém. Quando iniciamos este trabalho em 1982, foi através do contato com meninos e meninas na Praça da Matriz que estavam desenvolvendo diversos trabalhos para ajudar no sustento da família, a maioria sem pai em casa. Estas crianças e adolescentes ficaram surpresas e, ao mesmo tempo, gratos pelo reconhecimento que estávamos dando a eles: que eles existissem. Reclamavam que a sociedade, em geral, não os tratava como gente, mas os ignoravam; até algumas pessoas os tratavam como objeto de prazer ou de instrumento para roubar ou traficar drogas. Com o nosso contato, eles se sentiram valorizados. Convidamo-los a fazerem uma outra experiência de vida. Depois eles poderiam comparar para ver qual era o melhor caminho para dar sentido para sua vida, a experiência atual que estavam vivendo ou a nova experiência. Esta nova experiência consistia em ter mais disciplina, colocar limites, organizar sua vida, dormir em casa, participar na escola, aprender relacionar consigo mesmo, com o outro, com Deus e com a criação; aprender respeitar e ser respeitado, aprender amar e ser amado. Foi através dessa experiência que nós, educadores, chegamos à conclusão de que essas crianças e adolescentes almejavam algo diferente, algo além daquilo que a sociedade oferecia. Elas queriam ser valorizadas, que a sociedade reconhecesse com gestos concretos que elas realmente tivessem valor, e ser tratadas como gente.
A segunda experiência foi de 1980 a 1984 na Escola Estadual Álvaro Adolfo. A diretora naquela época, professora Nely, me convidou a formar uma equipe para dar aulas de Orientação Para a Vida, para ajudar formar, além da Inteligência do aluno, o seu coração também. Ela queria melhorar o ambiente escolar com um melhor relacionamento entre as pessoas. O Programa que nós desenvolvemos foi baseado na formação integral da pessoa humana. Procuramos levar os alunos a descobrirem o seu próprio valor, amado por Deus, dotado de dons, com uma personalidade única que poderia ser desenvolvida, e vivida de tal forma, de contribuir para um ambiente mais fraterno na escola. Trabalhamos o Sentido da Vida: Por que vivo? Para que vivo? Refletimos que cada um tem uma personalidade única e é chamado por Deus para contribuir, com os dons desta personalidade, para uma convivência fraterna melhor entre as pessoas. Trabalhamos também o Relacionamento Integral: consigo mesmo, com o outro, com Deus e com a Criação. Tivemos um espaço para a formação do Corpo Docente também, para que cada educador pudesse reforçar os valores promovidos nas aulas de OPV. Com este programa, desenvolvido por cinco anos dentro do colégio, conseguimos, com a colaboração da direção e do corpo docente, transformar o ambiente escolar num lugar de bons relacionamentos.
Através destas duas experiências concluímos que nós, educadores, temos que fazer um esforço coletivo para atingir o educando integralmente: corpo, mente e espírito; ajudá-lo relacionar-se melhor. Isso levará a um respeito maior entre as pessoas e ao amor mútuo e a um cuidado maior com a criação. Isso é o plano de Deus; isso é a nossa missão.
A Diocese de Santarém está buscando algo assim com o desenvolvimento de sua missão; indo ao encontro das pessoas, visitando as comunidades na cidade e no interior, e tem uma proposta de visitar as escolas também. Ela busca parcerias neste trabalho para conduzir a infância e a juventude a tomar consciência do seu grande valor como pessoa humana, criada à imagem e semelhança de Deus, que são todos irmãos e irmãs, uns aos outros, filhos e filhas do mesmo Pai. Poderemos ter ações mais integradas entre nós para que a infância e a juventude, no ambiente escolar, sejam bem atendidas em sua busca do sentido da vida.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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