22 de maio de 2011
Quando em fevereiro deste ano, o Fórum Social Mundial se reuniu no Senegal, as notícias que mais criaram impacto nos participantes foram as de importantes mudanças políticas que a sociedade civil está realizando no norte da África. Pela internet, jovens e pessoas pobres se organizaram e, através de manifestações pacíficas, derrubaram ditadores como o da Tunísia e o do Egito que dominavam seus países por várias décadas, com punho de ferro. A partir dali, movimentos civis se insurgiram contra o governo da Líbia, da Síria e até do Marrocos. Impérios como os Estados Unidos e potências colonialistas como a França continuam intervindo e defendendo seus interesses imperiais nestes países pobres. Armam rebeldes e aproveitam o momento para colocar suas tropas em outros países, não para defender a população civil, mas para garantir o domínio do petróleo e de outras riquezas locais que sempre exploraram.
Em sua assembléia geral, a ONU declarou este decênio especialmente dedicado à integração social e aos direitos das pessoas afro-descendentes. A razão disso é que, no mundo inteiro, os organismos internacionais constatam um aumento do racismo e da discriminação em relação a migrantes, principalmente quando estes são africanos ou afro-descendentes. Também percebem que aumentam os efeitos da marginalização e exclusão social de pessoas e grupos afro nas sociedades consideradas do primeiro mundo. Por esses motivos, é importante que se promova no mundo inteiro um maior conhecimento e respeito da diversidade da herança e cultura destes povos. Os Estados devem criar medidas internacionais para melhorar a participação e a integração de pessoas de ascendência africana em todos os aspectos políticos, econômicos, sociais e culturais da sociedade. E todos devem colaborar para o desenvolvimento humano e econômico dos países da África, respeitando ao mesmo tempo suas identidades culturais e étnicas (Cf. Agenda Latino americana Mundial, 2011, p. 46).
De modo algum, os Estados Unidos e os governos europeus que intervêm em países africanos têm agido assim. Ao contrário, impõem ditadores que servem aos interesses ocidentais e quando estes já não servem mais, armam grupos rebeldes. Sustentam conflitos chamados de baixa intensidade com o propósito de vender armas e justificar intervenções armadas em países empobrecidos. A ONU sabe disso, mas é dominada pelo Conselho de Segurança, onde as vozes que decidem são de representantes destas potências intervencionistas.
Graças a Deus, na própria África, é cada vez mais forte a voz de uma sociedade civil consciente que se organiza e exige mudanças verdadeiras e profundas. Nos três fóruns sociais ocorridos na África, muitos africanos de diversos países não só participaram, mas tiveram um protagonismo importante. Eles revelaram que, em todo o continente, se mobilizam organizações populares, grupos de trabalhadores, círculos de intelectuais e um grande número de jovens que começam a se articular em função de uma África mais livre e soberana. Esta sociedade civil leiga e pluralista é que dará a seus países uma alternativa de organização política que não seja nem a continuidade do colonialismo ocidental representado pelas tropas do Tio Sam, nem o fundamentalismo islâmico do Taleban, da Al Kaeda e de outros grupos semelhantes.
É importante que nos unamos a estes irmãos e irmãs na defesa de sua liberdade e do direito de viverem em seus países de forma digna e justa. Nos livros sagrados de antigas tradições orientais, assim como na Bíblia, descobrimos um fio que percorre a história: a revelação de um projeto divino para a humanidade. Os evangelhos o chamam de “reinado divino no mundo”. Jesus ensinou seus discípulos a orar: “Venha o teu reino”. Com a libertação efetiva da África, temos mais um sinal da realização deste projeto divino de mais vida e justiça para toda a humanidade.
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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