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O banco de investimento Goldman Sachs criou o acrónimo BRIC para designar o conjunto dos países com economias mais emergentes (Brasil, Rússia, Índia e China). A manter-se o actual nível de desempenho, em menos de meio século estes países, que atingirão cerca de 40% da população mundial, superarão as economias das actuais potências hegemónicas, a saber: Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França e Itália. Como denominador comum, os países do BRIC apresentam as seguintes características: grande quantidade de reservas de recursos energéticos fósseis e de minerais, grande volume de investimento privado estrangeiro, mão-de-obra abundante e barata, florescimento na aplicação das novas tecnologias, crescimento económico estabilizado, crescimento do PIB, situação política estável e concentração de esforços no sentido de superar os atrasos infra-estruturais em que se encontram. Aceitando este cenário, o Brasil, além de ser detentor de consideráveis reservas de hidrocarbonetos em estruturas diapíricas, será o futuro fornecedor mundial de alimentos e biocombustíveis, enquanto a Rússia terá o monopólio do gás-natural e do petróleo, a Índia dominará no âmbito da mão-de-obra qualificada e a China no campo do desenvolvimento tecnológico.
À primeira vista, este cenário não deixa de ser possível, se tivermos em conta que os países da frente vão deixar-se dormir, tal qual fez a lebre na corrida contra a tartaruga. Em tempos recuados, pretensões similares deram origem a conflitos bélicos (ex: Segunda Guerra Mundial). Hoje, os conflitos económicos são geridos por pessoas envergando terno de marca a condizer com a cor da camisa e da gravata, armadas com dinheiro e apoiadas quer por instituições empresariais casadas com bancos, quer por consultores versados em múltiplas matérias, não sendo de excluir, galardoados com o Prémio Nobel. Contudo, as notícias que nos entram em casa mostram realidades nem sempre condizentes com as previsões do Goldman Sachs, no que se prende com o desenvolvimento tecnológico e melhoramentos infra-estruturais, muito embora a Índia, a China, o Brasil e a Rússia sejam, de facto, países com abundante mão-de-obra barata.
A frequência de acontecimentos catastróficos nestes países é de tal modo grande que apetece dizer «alguma coisa não bate certo», tanto mais que estamos perante asserções contraditórias e, do ponto de vista da lógica, entre duas contraditórias se uma é verdadeira a outra é falsa, a menos que estejamos posicionados numa esquina da História que marca o regresso à escravatura. As notícias mostram com demasiada frequência que, do ponto de vista infra-estrutural, Índia, China e Brasil são países povoados de acontecimentos terceiro-mundistas, embora inseridos em ambientes a abarrotar de dinheiro. As frequentes catástrofes que se dão nestes países, por motivos do péssimo ordenamento do território, da má ocupação e uso do solo, de deslizamentos de encostas e inundações provocadas por situações meteorológicas previsíveis, ombreiam, por exemplo, com sinistros ocasionados por processos arcaicos de mineração. Não é só a questão da exploração da mão-de-obra, vincada pelo desprezo da vida dos que precisam de sobreviver, é também o atraso tecnológico no domínio da ocorrência de aluimentos em escavações subterrâneas, de explosões por libertação do “grisu” e de outros desastres, numa época dominada por métodos de observação e segurança on line, de cálculo automático em termos de estabilidade, sustimentos provisório e definitivo e de tecnologias de construção avançadas. Será que o Goldman Sachs despreza estas variáveis?
Por favor, não nos queiram levar de volta ao tempo desse extraordinário livro de Émile Zola, de seu nome “Germinal”, a menos que a maior parte do mundo prefira alhear-se dos múltiplos acontecimentos calamitosos que perpassam nas TVs e dos que são resguardados no silêncio dos gabinetes do poder. De qualquer modo, também não deixa de ser verdade que a lebre está dormindo há demasiado tempo e, muito provavelmente, já perdeu a corrida contra a tartaruga. Ganhar-se mais do que se produz e ter regalias em excesso é razão bastante para prolongadas sestas. A indústria manufactureira quase que desapareceu da UE e o efeito dominó parece imparável. Vai para uma década que os Bilderberg se ocupam da questão da China, mas pelos vistos só têm contribuído para o agravamento da doença, tanto mais que à China, juntaram-se os outros países do BRIC. Por outro lado, os chineses não parecem minimamente preocupados com o excesso de liquidez.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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