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Ele era de ferro, porém tudo ao seu redor criado a espelho. E refletia assim em sua vida frágil-solidão. De dentro para fora e de fora para dentro.

Sua imagem por todos os cantos, no teto, dos lados, no chão. Não saia de sua casa, pois no espaço que compreendia lá fora se sentia “inreflexo” de um verbo que se fez carne, em um pronome “Eu” da mesma pessoa de um sujeito Seu, no horizonte e universo a se ver pela distância. Por isso, limitava-se a ficar entre quatro cantos de seus tantos 101 X 101 m². E vivia assim nosso admirável personagem novo, em uma época em que o brilho tanto físico como figurativo era fundamental e o narcisismo puramente virtual, de sala em sala vagava como se tudo ali fosse sua vida, se olhava no teto, nas paredes e no chão, tudo era somente reflexo. E falava consigo mesmo em formas refletidas.

– Bom dia!!!!!!!! Senhor Teto…Como vc está hoje. Hummmmmmm, muito bem pelo que vejo, e não me diga que nem foi dar um passeiozinho pelo virtual de suas alturas. Estou vendo em sua cara. Vá tomar um banho, comer alguma coisa e depois volte aqui, preciso contar a última de minhas decisões.

– E vc jovem parede dos lados, hoje esquerdo, já de pé? Cansado né? Ontem ficou no pc até chegar a madrugada, eu vi. E aquela “suadinha” da outra sala, deu trabalho em? Até que se entregou aos seus encantos e tirou toda a roupa e telefone te deu… Ah! Se uma ligação internacional a Portugal não fosse cara… Vc teria apagado aquele fogo a viva-voz. Heheh… Que castigo. Culpa dos cristais embaçados. Mas ela liga e tenha certeza disso, ai vc lhe tira o atraso. Em afagos inventados, em tocares intocáveis e em palavras muitas. Ela chega ao clímax de suas intenções (rs). E não vá com calma não!!! Dá-lhe o que ela merece…. Heheh… E nada de clássicos mesmo que ela queira, clássico foi clássico, foi época, foi passado. Agora é com o virtual. E se algum “pessonhento” quiser dar palpites, deixa de lado a dona e parte para outra. Ai nem valem os bytes.

– Hei!!! Senhor chão… Vc não muda mesmo em??? Sempre por baixo, está querendo o quê desta vez? Ver o que outros aqui de cima não vêem (rs). Só fica olhando… olhando… E esperando que alguma migalha caia daqui para vc. Esquece… Nestes espaços não tenho migalhas, ou vc sai daí e vem para cá, ou que fique ai. Só não me chateie com estes olhares de pidão. Tenho pena de vc chão, não cresce, não amadurece, só fica olhando o que não te pertence: às alturas. E não tente me puxar para baixo ok? Vc até conseguiria me derrubar, mas daí a permanecer ao teu lado é uma outra história, sem chance…

– Hummmm, já voltou senhor teto? E que aparência. Divina… Venha cá, venha? Não… Não pode descer aqui para falar comigo? >:-( Ok… Sempre em nível superior em??? Sabe ia dizer que preciso de vc para uma decisão? Mas na verdade acho que não preciso tanto assim. O que seria de vc sem o meu reflexo? Em cima, em baixo, aos lados e adentro? Não existiria ação, sou eu quem falo o que quer falar, sou eu quem sinto o que quer sentir, sou eu quem vivo e relato histórias. Sabe, ia te contar a última, mas agora nem sei se devo? Ou se vc merece ouvir… Na verdade, de Personal Cérebro para pc, de visão para tela… de dedos para teclado… de mãos para mouse… De frete para o teto, para os lados e para o chão… Ouçam: lá fora, além destes 101 X 101 m² existe um invejável mundo velho…. Cujo espelho maior concentra-se no refletir céu, mar, terra e ar… Digam-me, o que seria um se não fosse o outro? Por mais distante, maior ou menor que sejam. O que seriam desses espaços sem o seu universo, do virtual sem meu desejo de ficar? Ou de lá fora sem meu desejo de partir? Espelho, espelho meu. Existe algum reflexo mais complexo do que eu?

– Fuiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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