No pensamento de José Marti, Nuestra América envolvia toda a América do Sul, a América Central e o Caribe, incluindo ainda o México, na América do Norte, deixando apenas os Estados Unidos e o Canadá. É exatamente a América dos pobres, desde séculos, colonizados e há tempos dominados pelo grande vizinho do Norte. Nesta semana passada (05 de julho), a Venezuela celebrou o bicentenário de sua independência. Em comemoração aos 200 anos do movimento revolucionário liderado por Simon Bolívar, reuniram-se em Caracas 32 chefes de Estado e criaram CELAC, Comunidade dos Estados Latino-americanos e Caribenhos. A organização se propõe a substituir o chamado Grupo do Rio e incorporar os países do Caribe (Caricom). Este novo organismo fortalece o Mercosul e a Unasul, organismos que já estão conseguindo desenvolver uma política econômica autônoma em relação à potência norte-americana. É claro que se trata de uma construção complexa já que inclui desde os países que já se libertaram até o Chile, Peru e Colômbia, que ainda mantêm tratados de livre comércio com os Estados Unidos. Sob o pretexto de combate às drogas, os atuais governos destes países permitem que se construam em seus territórios bases militares norte-americanas, cujas atividades, o próprio governo local não controla.
          Esta integração continental é, sem dúvida, o fato mais importante e o maior desafio para nós, latino-americanos, neste começo de século. Afinal, há duzentos anos, homens como Simon Bolívar e José Marti deram a vida por este ideal, mas a ambição de elites locais acabou prevalecendo e nos dividindo em países rivais. Por mais duro e doloroso que seja, é preciso reconhecer a verdade do que afirmou José Mujica, presidente do Uruguai: “Criamos muitos países porque fracassamos na fundação de uma única nação continental como era a proposta dos nossos libertadores, Bolívar, San Martin e Artigas” (Cf. Caros Amigos, junho 2011, p. 35). Ele retomava o pensamento do filósofo argentino Jose Abelardo Ramos que escreveu: “Somos um país (Argentina) porque não conseguimos integrar uma nação e nos tornamos argentinos porque fracassamos em ser latino-americanos” (Cf. seu livro “Revolución y Contrarrevolución en Argentina”).
          Por sua grande dimensão e sua importância estratégica no continente, o Brasil e todos nós brasileiros, temos uma responsabilidade especial nesta missão importante e urgente de construir esta Pátria grande que inclui toda a América Latina e o Caribe.
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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