Em poucos dias entro no quinto mês de gestação. Se você se adapta a tudo na vida, se adapta também a forma como as pessoas te enxergam em uma gravidez.Engraçado, mas de repente quando você fica grávida vira um bicho de outro planeta. Extraterrestre mesmo. Só porque você não tem mais aquela barriga convencional ‘olha como sou bonitinha’ todo mundo fica te olhando um tanto esquisito na rua.
Não é complexo de inferioridade, paranóia ou algo do tipo, mas nem todo mundo quer te levar pra casa só porque você tá carregando um bebê. Grande parte da população ainda se espanta quando vê uma barriguinha saliente despontando na roupa (como se as mulheres um dia não fossem ter filhos e engravidar). Acho que tem gente que esquece que antes de sair engatinhando e correndo por aí, ficaram nove meses (ou talvez até menos) no útero de uma mulher (a não ser que acreditem em cegonha!).
Nesse meio tempo já vi e vivi de tudo um pouco. Descobri que estava grávida justamente quando a minha vaca foi para o brejo. A bichinha tava atolada no meio da lama quando decidi que iria tirá-la dali. Só que como tudo que está ruim, pode ficar ainda pior meus dias iniciais de mamãe de primeira viagem ficaram bem tensos. As dívidas foram se acumulando. Acumulando. Foram entrando pelas brechas, pelas fendas e até pelos buracos das goteiras, tudo de uma vez só. Eu passei a ter medo do carteiro. Mas… como sou ‘brasileira e não desisto nunca’, botei aquela maquiagem, vesti aquela roupinha folgada (pra não contornar a barriga) e parti com o currículo debaixo do braço. Se eu tivesse ficado em casa tentando aprender a fazer crochê … teria sido mais prático (aprenderia um ofício e ainda produziria os primeiros sapatinhos da Rebecca). Só que não! Eu precisava ser do contra! Aquilo não ia acontecer comigo! Eu era uma profissional (pelo menos acreditava nisso). Falei pra mim mesma que vivíamos em uma sociedade moderna e que gestantes e mães também possuem lá suas vantagens. Aliás … sabia que a maternidade deixa as mulheres mais atentas? Mais compromissadas e aptas para multitarefas. Tá pensado o quê? trocar fraldas, descobrir porque o neném tá chorando e pegar diversos objetos para deixar o pimpolho limpinho antes que ele abra o berreiro é uma lição de vida e tanto!
Continuando … No meu âmago, pensava: “as pessoas vão entender, vão me ajudar, afinal todo mundo acha uma grávida fofinha. Gravidez não é o fim do mundo. É algo até sereno. O começo de uma nova vida’. Balela!!! pura balela!!! Não preciso dizer que levei um ‘não’ atrás do outro e que ouvi dezenas de desculpas (algumas bem esfarrapadas). A sensação foi que pegaram minhas experiências profissionais e meus dois diplomas de graduação, embolaram, jogaram no lixo e deram a descarga e ainda olharam pra ver se desceram pelo buraco. Me senti um nada. Tentei entender que mal havia no mundo se você tinha decidido que queria ser mãe e ter uma filha? (carregue sua cruz querida).
Antes que digam que estou generalizando, vamos alguns fatos. Se você acha que os homens são machistas e que a grande maioria dos que me disseram ‘não’ vestiam calça … você acertou! Encontrei alguns brutos que meio que equipararam a minha atual situação a uma doença que te deixa inválida por nove meses! Tiveram aqueles que foram compreensivos, ‘porque você não espera seu bebê nascer e volta aqui? Porque não tira o tempo agora para curtir sua gravidez?’. Não doeu menos, porém foi um pouco melhor. Mas o tapa na cara, o soco na boca do estomago foi a reação de grande parte das mulheres! Sim, elas são mais preconceituosas! (e eu que acreditava em solidariedade feminina…). Muitos dos contatos que recebi de proposta de trabalho, foram feitos em um primeiro momento por mulheres que ao saberem que estava gestante torciam o nariz,a boca ou vinham com uma desculpa bem chinfrim (deixe tá, um dia vocês também vão parir). O fato é que acabei ficando parada.
Arara da vida, ainda praguejei o mundo por ter desfeito a minha visão de ‘aí que lindo, aí que meigo’. Embora tudo culminasse para ‘melhor você ficar em casa, quieta na sua, passando óleo de amêndoas na sua barriga para não dá estrias’ Eu fui a luta! melhor as pesquisas na internet. Descobri que quando você está grávida, as empresas (e patrões) aplicam a equação gestante = a direitos trabalhistas = a grande problema! Fora que mesmo que você afirme de pé juntos, que se disponha a assinar um milhão de cláusulas, jure cruzando os dois dedos em frente a boca, os chefes sempre acharão que você vai colocá-los na justiça (mães se transformam em ávidos monstros que querem dinheiro para comprar fraldas). Enfim … querendo ou não fui subjugada a uma vida de textos sobre bebês e roupinhas para menina. Quem diria hein? Ossos do ofício de ser mãe … com emprego ou sem emprego a única verdade absoluta é que Rebecca será minha melhor experiência profissional, o certificado mais importante de toda a minha vida.
Toda mulher nasce para ser mãe, só que muitas não sabem…
Obs: Imagem enviada pela autora.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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