7 de agosto de 2011
Quando foi anunciado, em 25 de janeiro de 1959, o concílio teve adesão pronta e surpreendente. Diversas circunstâncias contribuíram para isto, todas elas tendo como fonte a figura de João 23, que em pouco tempo de pontificado já tinha conquistado a simpatia de todos, pela sua bondade e simplicidade.
Mas o fator que mais suscitou esperanças foi o contexto ecumênico do seu anúncio, feito na conclusão da semana de orações pela unidade dos cristãos. Espontaneamente todos entenderam que o Concílio iria se inserir dentro da questão que estava em jogo naquela celebração, realizada nas dependências da Basílica de São Paulo. Seria um Concílio a serviço da causa ecumênica.
Esta versão se espalhou tanto, e tão convictamente, que o próprio João 23 se viu na obrigação de moderar as expectativas, alertando que o Concílio era de iniciativa da Igreja Católica, e se destinava primeiramente a ela. Até porque não caberia à Igreja Católica convocar as outras Igrejas, sem prévio entendimento mútuo. Mesmo que a restauração da unidade dos cristãos fizesse parte do horizonte do Concílio, e se propusesse a tomar medidas internas necessárias para tornar viável um novo entendimento entre os cristãos.
O Concílio, portanto, mesmo levando o nome de “ecumênico”, seria destinado à renovação da Igreja Católica, que teria, isto sim, como uma das motivações mais profundas a reconciliação entre os cristãos. De fato, o Concílio iria produzir um primoroso documento sobre o ecumenismo, destinado à Igreja Católica, mas contendo preciosas reflexões e normas práticas para o relacionamento com os outros cristãos.
Mas, olhada agora, depois de 50 anos, esta forte expectativa ecumênica, suscitada pelo anúncio do concílio, revela um significado mais profundo. Mostra como, desde o início, a proposta de um “concílio ecumênico” foi levada a sério e entendida como muito profunda e abrangente. Pois envolvia a temática densa e desafiadora, da natureza e da missão da Igreja de Cristo.
De fato, nas esperanças ecumênicas estava identificada a temática central do Concílio, que iria se clarear sempre mais, e que brilhou com toda a sua luminosidade no decorrer do Concílio: seu grande tema era a própria Igreja.
De maneira superficial, os que hoje pretendem diminuir a importância deste Concílio, dizem que ele foi convocado sem ter assunto, e que se limitou a recomendações de ordem pastoral, sem definições doutrinárias de peso.
Muito ao contrário! Ele abordou, de maneira delicada e esperançosa, a grande questão que vem se arrastando há séculos na Igreja.
A problemática da unidade entre os cristãos emergiu na ruptura entre católicos e ortodoxos, consumada em 1.054, e se escancarou no século dezesseis com a reforma protestante.
Portanto, desde o seu anúncio, este Concílio se defrontou com um tema teologicamente muito denso, e pastoralmente muito complexo. Desde o seu início, o Concílio foi entendido na sua ousadia de propor um tema que vinha desafiando os cristãos há séculos.
Isto nos leva a outra observação muito importante: por ter abordado uma questão que atravessava séculos, esse concílio não se esgota em décadas. Ele requer uma recepção mais demorada e progressiva. Daí a demanda por continuar o processo que ele desencadeou. E o risco de ser anulado por resistências inerentes a cristalizações históricas.
Por isto, a sustentação de suas verdadeiras intenções é tão importante agora, quanto foi o empenho em realizá-lo 50 anos atrás. . A causa do Concílio ainda continua em pauta. Daí a importância de uma consistente celebração do seu jubileu, para resgatar sua temática, consolidar seus avanços, e impedir retrocessos.
É o que já começa a fazer a Diocese de Jales, colocando o Concílio, já neste ano, como tema central de sua romaria diocesana do próximo dia 21 de agosto.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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