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Sempre que alguém que é a favor de uma ideia, de uma pessoa, de um projeto, que a gente é contra, chamar de inimigo é um tanto forte, mas, nos tempos nebulosos em que vivemos hoje, com ânimos tão acirrados e tolerância em falta, parece que a coisa se torna mesmo entre inimigos.

Há cinco anos que uma parcela dos brasileiros foi golpeada e depois jogada aos leões, com as eleições de 2018. E, enquanto isso, uma parcela bem menor da população, vem apoiando e se beneficiando do caos e do desmonte do País.

Interessante é que, mesmo sendo pequena a parcela dos beneficiados, tem apoio de parte da população que mais está sendo prejudicada, como uma síndrome de Estocolmo, um estado PSICOLÓGICO em que a pessoa submetida a intimidação, medo, tensão e até mesmo agressões, passa a ter empatia e sentimento de AMOR e amizade por seu AGRESSOR.  Seria essa a explicação para que pessoas que estão tendo seus direitos tomados, a comida sumindo do prato, o emprego virando fumaça, o aluguel cada vez mais difícil de pagar, a educação descendo ladeira abaixo e, mesmo assim, atender ao chamado dos ricos e abonados e engrossar as parcas fileiras de apoio a tudo que está lhe prejudicando?

Fico aqui, tentando entender por que há mulheres que apoiam uma pessoa que considera ter tido uma filha, uma fraquejada, que diz a uma mulher, diante das câmeras, que ela não merece ser estuprada porque é feia ou ainda, que diz que usava o auxílio moradia para “comer gente”. Tem alguma lógica, ser mulher e apoiar um machista, misógino?

Outra coisa que me intriga é pessoas da comunidade LGBTQI+ apoiarem quem disse que preferia que o filho morresse atropelado do que aparecer em casa com um bigodudo. Faz algum sentido ser homossexual e apoiar um homofóbico?

Enfim, enquanto isso, apoiadores, estimuladores e batalhadores para a concretização do golpe de 2016, que tirou da presidência uma mulher digna, eleita legitimamente e que, dando sequência ao projeto de desmonte do País, ajudou a eleger, em 2018, este desgoverno, estão, pouco a pouco, abandonando o navio, como ratos de porão que, tomando consciência do naufrágio iminente, são os primeiros a pular fora.

E aí, os neófitos “Fora Bolsonaro”, decepcionados com a pessoa do presidente, convocam às ruas, todos e todas que querem tirá-lo de Brasília. Só que existe uma diferença crucial e importantíssima entre o grupo neófito e o grupo que não queria Bolsonaro na presidência mesmo antes das eleições: os primeiros querem tirar Bolsonaro, mas apoiam o que ele representa. E os segundos não querem apenas tirar Bolsonaro. Querem tirar o fascismo, a extrema direita, o neoliberalismo desenfreado, o capitalismo selvagem e doente, que se instalou no Planalto.

É preciso não apenas combater pessoas, mas combater ideias  opressoras, projetos destrutivos e instituições voltadas para o desmonte do País.

É preciso ficar atento, é preciso ter critério na hora de segurar as bandeiras, na hora de apoiar os movimentos e as manifestações. Ou você defende um modelo ou você defende outro. Não se trata de pessoas, se trata de ideias, se trata de princípios, se trata de defender um sistema de governo que seja para todos e todas. Isso é que é o importante e  ir à rua pra tirar uma pessoa do poder,  não significa que querem retirar também o que a pessoa representa.

É muito difícil a gente fazer esse discernimento, mas é preciso, ao menos, saber que: INIMIGO DO MEU INIMIGO NÃO É MEU AMIGO! DESAFETO DE UM DESAFETO NÃO É MEU AFETO!

Obs: A autora é jornalista,  blogueira e Assessora de Comunicação

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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