A Espiritualidade pode ser definida como um estado de consciência de que existe algo maior do que nós mesmos e de que tudo é “Uno”, independentemente de como essa Unidade possa ser chamada, na qual vivemos de maneira interdependente, interagindo com tudo e com todos, influenciando, sendo influenciado e em constante transformação. Em outras palavras, espiritualidade seria um “entendimento vivenciado” de que a Realidade é uma só, indivisível e de que a existência individual, neste planeta, está em completa conexão, harmonia e interdependência com o Universo, visível e invisível, tangível e intangível, isto é, com o fenômeno Vida Universal.

E quais são as “verdades científicas” que podem corroborar com essa visão? O Big Bang (Grande Explosão) parece ser o início desse nosso Universo. Subitamente, um ponto, de incomensurável energia concentrada, conhecido no meio cientifico como “A Singularidade” (também chamado, nas principais tradições religiosas, de Deus, Brahma, Jeová, etc,), por razões que continuam misteriosas (se é que existe alguma razão), resolveu “explodir” ou se “expandir” ou se “manifestar”. E assim o fazendo, criou tudo que podemos ver, sentir e medir e, também, o que não podemos ver, nem sentir, nem medir, apenas supor, como, por exemplo, a energia e a matéria escura.

Além disso, a Ciência, através de Poincaré e Einstein, entre tantos, nos garante que tudo no Universo é energia (E= MC2) e que toda a energia do Universo vem da Singularidade, via Big Bang. E mais, além de afirmar que inexiste a dicotomia energia versus matéria, ela nos diz que aquilo que conhecemos, nesse exato momento, como matéria, além de ser energia, é “feita” da mesma energia do Big Bang, Das mesmas subpartículas quânticas “criadas” pela “Singularidade”. E, mais ainda, a Ciência nos garante que toda energia interage com energia. E que energia é informação, e informação é energia, e que o Universo é um “Grande Sistema”, um “grande campo quântico de energia e informação”, interagindo e, continuamente, se “transformando”.

Para reforçar uma Espiritualidade baseada, vamos dizer assim, na “percepção” da imanência e transcendência dessa incomensurável energia cósmica, originada naquele “ponto de energia”, vale citar Lavoisier que, diuturnamente, nos “relembra” que na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma, o que, obrigatoriamente, nos indica que no Universo não existe perda de energia, isto é, a Lei da Conservação da Energia continua “valendo” até que se prove o contrário,

Ora, como energia é informação, também podemos afirmar que não existe perda de informação, ou seja, o Big Bang ou o Grande Campo Quântico ou a Singularidade (ou qualquer outro nome) é onipresente, onipotente e onisciente, e que tudo é realmente um “Grande Uno”, que possui, pelo menos, os três predicados citados. O mais fascinante é que a Ciência “hipotetiza” ou teoriza, baseada em experimentos científicos, dentre os quais destacamos o da “dupla fenda” (total interação entre o observador e o observado) ou no “emaranhamento quântico” (toda partícula quântica se comunica com outra partícula quântica em tempo real, não importando quão grande seja a distância que as separe), que através do maravilhoso cérebro e mente humana, principalmente via sonho, oração, meditação, contemplação e intuição, podemos interagir e acessar, em tempo real, esse campo quântico de energia e informação, que poderia ser considerado um  “eterno e incomensurável banco de dados” que não para de “aumentar”.

Finalizando, e de uma maneira mais “poética”, podemos afirmar, sem dúvida, que, sim, somos uma gota de água no oceano, que por sua vez tem o oceano dentro dela. Ou, ainda, que viemos da Singularidade, somos feitos da Singularidade e nos dissolveremos, repletos de informação, na aparentemente “eterna” Singularidade. Portanto não é à toa que todas as tradições espirituais defendem que devemos ter “cuidadosos e corretos” pensamentos, falas, atitudes e ações, porque, sim, o que falamos, pensamos, intencionamos e fazemos têm um enorme impacto no presente e no futuro de todo o Universo. Como diz o milenar e sábio ditado: colhemos o que plantamos. Agora e sempre. Quer como indivíduos e sociedades, quer como humanidade. “Simples” assim.

Que tal se tornar um espiritualista e ter o prazer, a responsabilidade e o cuidado de acolher o Universo em suas mãos? Bora nessa!

Obs: O autor é educador, Livre-Pensador, profissional de saúde, professor universitário, pesquisador, escritor, gestor de Políticas Públicas e militante/ativista da Bioética, do Humanismo e Da Inclusão Científica.

Formado pela UFRJ, é Ph.D pela Universidade de Leeds-Inglaterra, e membro das Academias Pernambucanas de Ciências e de Medicina.
Foi Secretário Executivo de C&T e Ensino Superior do Estado de Pernambuco e Secretário Executivo de Desenvolvimento da Educação de Pernambuco.

É autor dos livros Ética, Bioética e Humanismo na Pesquisa Científica; Contribuição ao Conhecimento; Iniciação em Pesquisa Científica; Flunático: fluminense fanático e lunático, Um Outro Mundo é Possível (2021) e criador da aula espetáculo Somos Todos Cientistas.

Atualmente é Coordenador do Curso de Medicina da UPE e membro da Câmara de Bioética do CREMEPE.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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