Esta é uma história da tradição judáica, tirada do livro HISTÓRIAS DO RABI, colecionadas pelo autor Martin Buber.
Certa vez, o Rabi Levi Itzhak disse em meio a uma oração: Senhor de todo mundo, houve um tempo em que andavas por aí com a tua Torá, oferecendo-a à venda como maçãzinhas podres, e não conseguias vendê-la – quem é que queria ao menos olhar para Ti? E depois nós a aceitamos. Por isto quero fazer uma troca contigo. Nós temos um monte de pecadores e malfeitores, e Tu tens uma plenitude de perdão e expiação. Façamos, pois, uma troca. Mas talvez estejas pensando: seja, pois igual por igual? Não. Se não tivéssemos pecados, o que farias com teu perdão? Por isto precisas ainda dar-nos, de quebra, vida, filhos e alimento.
Comentário do autor ( Adolfo Temme )
A história é cheia de ironia santa.
Só um Santo pode atrever-se a falar assim.
Os judeus têm fama de bons negociadores.
E aqui o Rabi negocia com o próprio Deus.
Faz parte da profissão mostrar desinteresse pela mercadoria,
para poder baixar o preço.
O vendedor é o próprio Deus, e o que Ele tem para vender?
O decálogo, a táboa da Lei Divina
que Ele oferece a todas as nações.
Nenhuma nação se interessou pelas TÁBOAS DA LEI.
Se Israel assumiu a Lei Divina, ganhou valor aos olhos de Deus.
Deus ofereceu o maior tesouro como se fosse maçã podre.
Realmente: Qual das nações quis assumir a Lei de Deus?
Nenhuma, a não ser Israel.
Até aqui a vantagem do negociador é enorme.
Tu dás a Torá, e nós damos nosso pecado.
Se não tivessemos pecados, teu perdão estaria sobrando.
Até aqui é um pelo outro.
Mas agora o atrevimento se supera:
Tem que ter uma quebra, algo a mais, para fechar o negócio:
Tu nos darás vida e filhos e alimentos,
que são garantias independemente do mérito do homem.
Aqui o judeu explica sua prosperidade em meio a toda perseguição.
Um povo que sofre e sempre se levanta.
Tudo isto poderia ser uma enorme blasfêmia
se não saísse da boca de um Santo Homem.
Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.