Neste final de semana a Diocese de Jales vive um momento especial. Realiza sua assembléia, com a presença dos leigos que vêm das comunidades, dos coordenadores de pastorais e movimentos, junto com os padres, as irmãs e o bispo.
Isto acontece cada quatro anos. O ritmo é ditado pelas Diretrizes da CNBB. Assim, a assembléia ajuda a expressar a comunhão da Diocese com a Igreja do Brasil. Uma assembléia, portanto, com clara intenção de afirmar a identidade eclesial da Diocese.
Desta vez o ritmo foi um pouco alterado, pela realização sucessiva de dois momentos importantes da Igreja: a Conferência de Aparecida, e as novas Diretrizes da CNBB. Como ambos os acontecimentos pediam uma acolhida adequada por parte da Diocese, a solução foi prolongar o clima de assembléia, que já teve um momento forte no ano passado, e outro agora neste final de semana.
Na verdade, a assembléia acaba explicitando, de maneira intensa, uma dimensão que é permanente para a vida da Igreja: o clima de participação e de comunhão dos seus membros, na diversidade de suas situações, e na integração de suas atribuições específicas. Isto se torna possível pela descentralização da Igreja em “Igrejas Locais”, onde todos podem se sentir envolvidos, como lembrou o Concílio Vaticano II. Ele resgatou a visão da Igreja de Cristo como “comunhão de Igrejas locais”, onde de fato a Igreja acontece.
A experiência forte do Concílio não só explicitou algumas verdades importantes para a vida da Igreja, mas serviu de demonstração prática de como vivê-las, mantendo uma atitude permanente de participação, de diálogo e de escuta mútua entre os membros da Igreja, de que o processo de assembléia é a manifestação mais intensa e mais clara. O que o Concílio viveu, com intensidade, agora é para ser vivido pela Igreja inteira. De modo semelhante, o que a assembléia diocesana vive, com intensidade, é para ser levado à prática de maneira permanente pela diocese, na sua caminhada eclesial.
Este clima de assembléia é muito saudável para a Igreja, por diversos motivos. O primeiro, certamente, é porque fortalece os laços de comunhão e de pertença à Igreja, não só das pessoas que vêm participar da assembléia, mas de todos os que por elas se sentem representados.
Na assembléia as pessoas podem sentir o que dizia aquela afirmação comum e espontânea surgida a partir do Concílio: “a Igreja somos nós”. Em tempos de crise de identidade religiosa, chega bem esta afirmação enfática da identificação das pessoas com a própria Igreja.
Em segundo lugar, o clima de assembléia, em que todos se sentem em pé de igualdade para falar e para ouvir, previne contra o perigo sempre presente na Igreja, de centralização, seja ela pessoal, territorial, ou mesmo ideológica.
A Igreja tem estruturas que, em princípio, devem estar a serviço da comunhão. Mas com facilidade se tornam instrumento de dominação. Se uma assembléia diocesana consegue criar o ambiente de abertura e de confiança mútua, ela proporciona uma salutar demonstração da validade da presença e a atuação de todos os membros da Igreja na sua vida e na sua missão, independente das funções diferentes que possam ter, e superada toda a atitude de discriminação ou de superioridade de quem quer que seja.
Por isto, a assembléia é espelho da Igreja. Não é por acaso que a etimologia da palavra “igreja”, significa, exatamente, “assembléia convocada”. Os momentos fortes de assembléia diocesana servem para consolidar esta postura de Igreja que precisa ser vivida na prática. E’ o que a Diocese de Jales espera confirmar com sua assembléia deste final de semana.
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.