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Em uma relação de confiança, para o bem ou para o mal, se revela um Eu mais próximo do que realmente somos. Quanto mais nos sentimos seguros em relação a alguém, mas a nossa alma se desnuda.

Na praça, um homem brinca com a criança empurrando-a no balanço. Pela intimidade, me parece pai e filha. Segurando firme na cadeirinha, a menina se diverte sorrindo para o céu. O divertimento ou o medo paralisante da brincadeira, dependerá da sensibilidade e responsabilidade de quem empurra o balanço. O desfecho benéfico do prazer, assim como do remédio, encontra-se na dosagem.

Mesmo sem muitas garantias, a criança busca a segurança nas mãos de quem ela “convidou” para brincar. Com os adultos a dinâmica é a mesma, só muda a “brincadeira”. Para muitos de nós, confiar em alguém é extremamente difícil, principalmente se, em nossa história de vida, as pessoas que deveriam nos proteger foram negligentes com a gente. Ficamos ansiosos, olhamos para trás com o corpo enrijecido, e em alguns casos, nem mesmo subimos “no balanço”. Só penso que talvez não tenhamos muita escapatória, somos seres relacionais por natureza, nascemos para confiar em pessoas mesmo que nos frustremos com elas.

Em uma relação de confiança, para o bem ou para o mal, se revela um Eu mais próximo do que realmente somos. Quanto mais nos sentimos seguros em relação a alguém, mas a nossa alma se desnuda.

Algumas vezes, no consultório, o paciente constata (fantasiosamente) que o analista que o “empurra” é totalmente bem resolvido em sua vida, que este sabe lidar positivamente com todas as suas demandas, medos e angústias inerentes a sua existência. O analisante acredita num suposto saber desse analista, que inclusive é terapêutico, pois esse acreditar fortalece o vínculo entre os dois no percurso do seu tratamento.

O que acontece nos bastidores é que nas costas desse analista também existem duas mãos que o impulsionam, que é a sua própria análise. Lá ele segura em sua cadeirinha, confia no profissional que o empurra (através da escuta analítica), e busca trabalhar seus traumas, limites e adoecimentos, inclusive, para melhor atender os seus pacientes. Quanto menos onipotente o analista se vê, mais acessível a sua escuta se apresenta para o seu paciente e suas demandas psíquicas.

Mesmo em tempos de desesperança e ceticismo, ainda existem pessoas em quem podemos confiar. Algumas dessas pessoas se vestem de profissionais, família ou amigos que fizemos no caminho.

Antes de ir embora da praça, pude presenciar a mais bela cena: a menina ainda segurando o apoio, dormia calmamente com o balançar do brinquedo. Ela conseguiu descansar no cuidado de quem a empurrava. Algumas pessoas são o repouso que precisamos e que nos permite acordar para a vida.

Obs: O autor é Psicólogo, palestrante, terapeuta de família casal.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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