O grande desafio da atualidade para a Vida Religiosa é romper estruturas tradicionais de pensamento, modelo e concepções em relação à organização religiosa e da própria atuação da Igreja. A afirmação é da teóloga Ivone Gebara. Ela foi a palestrante nesta quinta-feira, no VII Seminário Latino Americano da Congregação de São José. Ela caracterizou o atual momento histórico como período da complexidade do conhecimento humano. “Nem sempre esta realidade é reconhecida, principalmente, no mundo religioso e cristão. Ela significa que estamos vivendo num momento em que todos os conceitos da história, das ciências e da religião são mutáveis, estão em movimento. Os conceitos são líquidos”.

Para a teóloga, é importante escutar o que os outros dizem, porque as palavras que os outros usam têm significados próprias para eles. “Cada um de nós é estrangeiro na terra do outro. Isso exige escutar o que os conceitos significam na sua experiência”. Ela destacou que a América Latina vive um momento de insegurança cultural, política e religiosa acentuado. Por isso, há um risco de se falar em profetismo.  No continente, a esse conceito começa a ser utilizado no final da década de 1970, período que coincide contra as ditaduras militares e a ação em favor dos empobrecidos.

“O profetismo está ligado à situação de pobreza, injustiça social e violência armada. O reconhecimento a essa conceituação só ocorreu após a morte de Oscar Romero e de outros líderes. Os profetas são reconhecidos depois de sua atuação”. Ela afirmou que quando o profetismo diminui a sua força todo mundo quer ser profeta. “Em nossos tempos, têm muitos profetas. Quando alguém se autoproclamas profeta é preciso desconfiar”. Gebara acrescentou que há um poder escondido nos que se declaram profetas. Um poder sobre os outros. “Se todos querem ser profetas, é porque ninguém é profeta”.

Este pretendido poder tem sua grande expressão na concepção patriarcal das relações sociais e eclesiais. Por isso, “está ganhando força o feminismo como um movimento de reivindicação de direitos. Ele é o indicador de um movimento social, não algo contrário aos homens, mas contrário à dominação masculina”.

As concepções da teologia precisam ser modificadas, como devem ser modificadas as estrutura de poder das igrejas. Para tanto, é necessário começar a viver um novo tipo de relação. “A teologia tradicional e a hierarquia necessitam reafirmar a mensagem de que as pessoas são a imagem e semelhança do Senhor. Porque só o homem, o clero pode ser o senhor. Nisto reside o domínio da hierarquia”.

Segundo Ivone Gebara uma nova compreensão do feminismo e das teologias críticas não começam pelo Deus Pai todo Poderoso, mas iniciam a reflexão teológica pelo encontro com as pessoas. “O mundo masculino do poder é artificial, que não se sustenta mais, não tem futuro”, afirmou. Ela provocou os participantes do seminário a voltar a compreender a humanidade na diversidade que caracteriza o humano. “Significa retornar ao mundo múltiplo, das diferenças, da riqueza que a diversidade carrega e representa”. Elton Bozzetto – RP 10.417

Obs: Ivone Gebara é filosofa e teóloga feminista. Foi professora do Instituto de Teologia do Recife e trabalhou na formação de agentes de pastoral para o meio popular sobretudo do nordeste do Brasil. Doutora em Filosofia e Doutora em Ciências religiosas é autora de muitos livros e artigos. Vive atualmente em São Paulo e pertence à Congregação das Irmãs de Nossa Senhora.
É autora de mais de 30 livros publicados e dezenas de artigos sobre a temática.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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