Rejane Menezes 15 de maio de 2021

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O sábado amanheceu diferente. Não havia os clarins de momo… não havia nem rei Momo e nem rainha do Carnaval. Zé Pereira não foi acordado. Vai dormir até o ano que vem

Na ponte Duarte Coelho, o trânsito não foi mudado, seguiu o seu curso normal. Não tinha nenhum Galo gigante no meio dela.

Ei pessoal, vem moçada… esse canto esse ano não se ouviu. No centro do Recife apenas o silêncio fazia barulho, avisando que, esse ano, o Galo não saiu.

Há 43 anos saia, pela primeira vez, nas ruas do bairro de São José e Santo Antônio, o bloco Galo da Madrugada, no sábado Zé Pereira, saudando o carnaval.

No início arrastava apenas o pessoal dos arredores, comerciantes da área, atravessando a rua da Concórdia, indo até a av. Guararapes e se dispersando no encontro com a pracinha do Diário.

Meus pais, minha tia e minha prima, adoravam ver o galo passar. E houve uma época, ali pelo início dos anos 1980, em que podíamos assistir de um camarote improvisávamos no edifício garagem, onde meu marido estacionava o carro durante a semana, quando ia trabalhar.

Mas, esse ano não teve Galo.

Quarenta dias depois, chegou a Semana Santa e, não teve nem procissão, nem grandes celebrações e muito menos os shows grandiosos, que fazem a galera se aglomerar, cantar e dançar, celebrando, ao seu modo, o feriadão.

Com mais 3.195 casos da Covid-19, Pernambuco registra maior confirmação diária de infectados desde início da pandemia.

O Boletim desta quinta-feira, 13 de maio, contabilizou 79 mortes provocadas pela infecção. O Estado passou a totalizar 434.808 diagnósticos da doença e 14.798 óbitos de infectados.

Aqui, a um lance de escada, uma mãe passa pelo que nenhuma mãe jamais deveria passar, a dor de perder seu filho. O que dizer a essa mãe que perdeu um filho que estava sadio e que, pegou corona vírus e não sobreviveu?

No mês das mães, quantas já não perderam seus filhos para a covid? Na verdade, vou retificar o que escrevi. As perdas não são para a Covid. São para o descaso, para a irresponsabilidade, para o baixo valor que tem a vida dos outros, para quem pode e deve fazer alguma coisa e faz a opção de não fazer, prestando culto ao deus que rege o mundo, o tal do Mercado, que alimenta e promove a proliferação do veneno que está destruindo a vida do planeta: o capitalismo.

Treze meses se passaram desde o início oficial da pandemia no Brasil e só piora a cada dia. Com um programa de vacinação inexistente, as vacinas vão sendo compradas sem um planejamento que ajude a vislumbrar quando a luz do final do túnel irá acender.

Na verdade o que se vê no Brasil é uma campanha contra a vacina, que começa nas esferas federais e se sedimenta nas Igrejas, onde padres e pastores conservadores apregoam em seus sermões desprovidos de bom senso e valorização da vida, que a vacina não é eficaz, que mata, que faz virar jacaré, comunista e não sei mais o quê. Jacaré não seria bom, porque seria perigoso para o restante da população, dividir as ruas com jacarés. Mas virar comunista seria muito bom. Já imaginaram se a humanidade, de repente, fosse toda de esquerda? Quantos problemas não seriam resolvidos? De cara enumerou alguns: fome, miséria, desemprego, má distribuição de renda… eita… toquei no ponto mais sensível da questão, a distribuição de renda.

No hospital um religioso acometido de oscilação da taxa de sódio, se interna para fazer a reposição. Melhora do motivo que o levou ao hospital. Mas não pode ter alta. Mesmo vacinado com as duas doses, pegou covid no hospital e seu estado é grave.

Mas nada disso importa para quem está no poder, seja político, seja econômico. Não importa que pais e mães estejam enterrando seus filhos ainda jovens, que os filhos e filhas estejam enterrando seus pais. Quem se se importa se as pessoas estão morrendo sozinhas, sem a família e os amigos terem o direito de se despedir.

Qual o problema se eu não pude abraçar minha amiga e filhos, muito queridos, quando perderam marido e pai e eu perdi um amigo?

Em que influi na vida de quem está contabilizando seus lucros, o fato de eu, mesmo a um lance de escada, não poder ir abraçar a minha vizinha e amiga, porque, mesmo vacinada, continuo sendo grupo de risco e não me arriscar a pegar esse maldito vírus?

O que importa é que as igrejas têm que abrir, porque é serviço essencial. Essencial? Sério? Essencial como revenda de carro, academia ou salão de beleza?

O que importa é que as empresas, os bancos, as indústrias, têm que dar lucros altos, se não o mercado não fica feliz e faz um estrago.

Eu perdi um amigo/irmão, os meus vizinhos perderam seus filhos, tenho amigos da área de saúde que já perderam a conta de quantos amigos perderam, mais de 410 mil famílias e amigos perderam seus entes queridos, mas o que é que os governos e os que mandam na economia têm a ver com isso?

Vacina já, vacina para todos e todas, vacina gratuita!

Obs: A autora é jornalista,  blogueira e Assessora de Comunicação

e-mail: [email protected]
http://jornaloporta-voz.blogspot.com/

website – www.jornalistasweb.com.br

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A imagem é de Rossana Menezes, filha da autora / reprodução autorizada

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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