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Meus queridos amigos
É interessante que eu tenha a confiança de dizer ao meu querido povo, o que andei dizendo na Câmara, na Universidade Católica de Quebec, em um fórum internacional sobre “Diálogo de Civilizações”, fórum este que abriu um Congresso Mundial sobre Ciências da Educação.
Comecei lembrando um aparente diálogo entre o homem branco, civilizado e cristão e os povos de cor, no tempo das Descobertas.
Embora os povos de cor já vivessem nos seus recantos desde tempos imemoráveis, para a vaidade dos brancos, a vida dos povos de cor só começou depois que os brancos chegaram. Quem não aprendeu que o Brasil foi descoberto em 1500? No entanto, já havia aqui milhões de índios; desde quando, só Deus sabe…
Com a chegada do branco, os nativos ou aceitavam ser submetidos como escravos, ou tinham que enfrentar guerras de extermínio.
E, segundo a mentalidade daqueles tempos, quando os nativos aceitavam a escravidão, eram batizados, claro que sem saber muito o que era o batismo e o que era a religião cristã.
Quando mais tarde, os povos da Europa partiram para colonizar os povos de cor da África e da Ásia, repetiu-se praticamente o que acontecera no tempo das Descobertas. Com a desculpa de ajudar os povos de cor, sabemos o que foi e aonde chegou a atuação dos colonizadores: dominação, exploração, imperialismo…
Perguntei, no Canadá, se hoje a chegada das companhias multinacionais não é, de certo modo, a repetição do que se deu nas Descobertas e no Colonialismo. As multinacionais chegam prometendo maravilhas: Vem trazer tecnologia moderna, como tão cedo nossos países não poderiam ter. Vem trazer moeda forte para os nossos países de moeda cujo preço se evapora sempre mais. Vem criar trabalhos em quantidade.
Só se iludem, ou fazem de conta que se iludem, grupos de ricos nos nossos países que se aliam as multinacionais, abrindo o caminho para elas e facilitando-lhes a atuação. Podemos dizer: facilitando-lhes a exploração.
As multinacionais nos enchem de dívidas pelo que temos de pagar pelos direitos as máquinas poderosas que nos são emprestadas.
O anunciado dinheiro forte serve apenas para carrear produtos para os supermercados do mundo inteiro e para liquidar as matérias primas nossas, quase sempre matérias primas que nunca mais tornaremos a ter.
E quanto a empregos, as multinacionais, como máquinas poderosas, dispensam a maior parte dos trabalhadores e utilizam máquinas que exigem, não raro, formação profissional muito acima dos conhecimentos de nossa gente sofrida.
O mal maior é que as multinacionais, para as suas plantações gigantescas, estão expulsando do meio rural famílias numerosas que viviam e trabalhavam, há anos e anos, nas terras que as multinacionais adquiriram.
As famílias expulsas procuram as cidades. Sem ter onde trabalhar e onde morar, acabam invadindo terras, que aguardavam valorização através de especulação imobiliária. De novo os pobres são expulsos para cada vez mais longe. É assim que vem sendo o diálogo das civilizações.
Ainda bem que a nossa gente sofrida aprende, sempre mais, que sem ódio, sem violência, sem a loucura de apelar para armas, o povo unido, não pode pisar direitos dos outros, mas também não pode deixar que ninguém venha pisar direitos deles, dados pelo Criador. O povo unido assim é Deus com o povo! Quinta-feira, 6.8.1981
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Obs: *Mais uma das crônicas escritas por Dom Helder Camara para o seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE, exibido na rádio Olinda às 06h55 de 01 de abril de 1974 a 22 de abril e 1983. Está crônica está publicada no livro “Meus Queridos Amigos”, que reúne 200, das centenas de crônicas lidas por Dom Helder ao longo dos nove anos de duração do programa.
Imagem e texto enviados pelo IDHEC – Instituto Dom Helder Camara
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