O falecimento de tantas pessoas queridas ao longo de nossas vidas, e mais ainda, durante a pandemia, nos faz pensar sobre a vida e a morte. Por que a morte se tornou tão trágica e deixa esse rastro de dor e de nostalgia?
Fomos deformados para lidar com a morte. Diferente de outras culturas que têm outro olhar sobre a existência. A visão grega separa corpo e espirito. Pior, o corpo é matéria desprezível porque limita o ânimo que é a essência.
Essa visão esquizofrênica da pessoa foi inculcada na civilização católica ocidental por Agostinho de Hipona para quem o corpo, e nele todas as manifestações orgânicas, era um mal necessário, uma prisão detestável.
Outros povos olham o nascimento como o momento onde o espírito assume um corpo; a morte é a passagem pela qual a matéria que se espiritualiza e, por isso, se espraia invisível. Corpo e espírito são igualmente presença.
A água continua água, mesmo quando se torna vapor. Quando alguém ama concretiza a presença da pessoa amada quando recorda ou vê objetos, palavras, perfumes, histórias, mesmo que a amante esteja distante ou tenha partido.
Para espalhar o caminho de Jesus, 50 anos depois da sua morte, pelo poder religioso e imperial, os cristãos tiveram que escrever os Evangelhos e partilhar a experiencia do Senhor que expirou e continua presente entre eles.
A sabedoria dominante ensinava que se atinge a divindade pela inteligência. Para negar a humanidade de Jesus, caminho a ser imitado, os pagãos preferem pregar um deus no alto, para ser adorado ou distribuir favores.
A história registra a existência de figuras que foram tão humanas que só poderiam ser divinas ou, ao revés, suas presenças eram tão divinas que as suas vidas expressavam uma plenitude de humanidade.
Cada um de nós já experimentou essa presentificação invisível que torna quase palpáveis carinhos, paisagens, falas, momentos inesquecíveis…. É a presença do espirito que se materializa e da matéria que se espiritualiza. 1º de Maio, 2021