elza fraga 1 de fevereiro de 2021

A inveja não é despertada pelo que você tem.

A inveja vem pelo que você é.

O alvo da inveja é a alma, não a sua casca/matéria, e do que você a rodeia.

A inveja lhe atinge quando você está acordada e começam a descobrir seu despertar.

Quando o brilho no seu olho passa a ofuscar quem lhe encara.

Quando entendem que você não vai mais reclamar de nada, nem comentar, nem julgar ninguém, nem se unir as rodinhas de maledicências.

Quando percebem que você prefere a companhia das flores, das nuvens, dos animais, e só se aproxima de gente quando necessário.

Eles até entendem que você ainda os ama, mas não aceitam seu silêncio, seu recolhimento, levam para o pessoal e lhe rotulam de esnobe, mas no fundo ardem de desejo de ter a paz que você conseguiu.

Cobiçam sua falta de medo, seu peito aberto para enfrentar a vida, seu sorriso que não entendem, seu jeito de viver pra dentro, sua solidão bem administrada, sua vontade de voar.

Invejam seus pés firmes no chão, e invejam suas asas.

Não os recrimine, não se aborreça, apenas continue a viver com o que tem, sem desejar nada mais que luz pra lhe guiar.

Um dia entenderão você, e buscarão pela estrada em que deu seus primeiros passos, tentarão seguir a mesma estrada,
muitos conseguirão.

E só aí começarão a entender seu brilho no olho, seu silêncio reverente, seu desapego, suas paradas para admirar as flores e as nuvens, esses pequenos detalhes que, por cobiça, rotulam como preguiça.

Perceberão que o caminho certo é o movimento lento e estudado.

E que mais vale aprender com a observação do que com a estafa.

Que o trabalho enobrece desde que não desrespeitemos o corpo no excesso dele.

E que mais vale saber da vida, e admirá-la,

que correr como louco para vê-la se esvair sem ter cheirado uma rosa, brincado com a brisa, abraçado uma árvore, amado a água bendita, respeitado uma borboleta, abrigado uma joaninha no braço, dito uma palavra de conforto a um amigo querido.

E quem hoje cobiça nosso jeito de ser, amanhã haverá de acordar entendendo a língua dos pássaros e das fadas, e ousarão voar ao nosso lado.

Perderão o medo do abismo e se arriscarão no infinito.

Bom dia pra estes que ainda deslizarão pelo arco-íris.

Elza fraga
Tentando entender o ranço que sentem pelos que apenas vivem sem ferir,
tentando respirar baixo e ritmado para não perturbar o sonho dos que ainda dormem.

Obs: Imagens da autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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