O fator alteração para melhor se constituiu num sinal de que meu tempo naquela comarca, a primeira, chegava ao final. O fórum com água encanada, a estrada em construção, ainda que não fosse asfaltada. Pintou a remoção para a segunda e, também, última. Lá tinha fórum, sala de audiência e de despacho uma só. Chegou a água encanada. O telefone, instalado. A estrada para Itabaiana, onde residia, asfaltada. A essa altura, eu me submetia a concurso para juiz federal. O anjo de guarda me anunciou a minha aprovação, que, de fato, ocorreu, com o meu mais profundo esforço, ressalte-se. Era melhorar o sítio que eu ia para outro. Estava escrito.
Depois, foi nova peregrinação. Inicialmente, Piauí, cuja conquista de seu território guardava, ainda que diminutamente, semelhança com a de Nossa Senhora da Glória, no sertão sergipano. A remoção para uma seção na costa nordestina, os coqueirais das praias de Maceió, as mais bonitas do Brasil, depois da praia do Saco, em Estância, guardando, no seu todo, pelo menos na minha suspeita visão, alguma afinidade com a comarca de Campo do Brito. A história se repetia, até que invadi Aracaju e lá estabeleci minha tenda de trabalho. Foi à última remoção, e, aliás, a mais desejada e sonhada, o último lugar do roteiro, como, durante quase duas décadas, acreditei, considerei, anunciei e proclamei. Só não baixei lei a respeito.
Estava enganado. A sereia do segundo grau, quando a minha antiguidade assumiu o primeiro lugar, acordou-se e me seduziu, ela que durante anos e anos se manteve de boca fechada. Não ouvi música para me transformar em pedra. Acenos não me foram dirigidos, nem propostas, decentes ou indecentes, se fizeram presentes. Me mantive sereno, vendo a maré trazer água para minha calçada, a adentrar no meu sapato, alcançando os joelhos, numa provocação que terminou balançando meu coreto. Deixar de ser cozinheiro para passar a frequentar o restaurante. De repente, os argumentos da anunciada recusa deram lugar a um sorriso silencioso de quem, mudando de planos, aceitava o desafio da promoção. Os obstáculos desapareceram. Doze anos já foram ultrapassados. Agora é o horizonte, na frente da caminhada, que se encurta. E é justamente o que, hoje, me incomoda: a ameaça do pijama e a impossibilidade de parar o tempo – Diário de Pernambuco, 29 e 30 de agosto de 2020.
Obs: Publicado no Diario de Pernambuco
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Membro das Academias Sergipana e Itabaianense de Letras