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O admirável mundo do consumismo há muito escancarou suas portas para nós. Encontramo-nos numa posição confortável. Não precisamos mais nos expor ao calor humano, à solidariedade e à comunhão, verdadeiros sentidos dessa nossa (ainda) existência humana. Agora, numa data especial para alguém, basta que enviemos um presente ou uma lembrança, que este nos terá em boa conta.

O Século XXI, a exemplo do anterior, começou a toda nesse processo de encomendar-se presentes para alguém num momento ímpar. Assim, o calor humano, que deriva da solidariedade e da comunhão, fica à parte porque não se enquadra nesse mercado da pronta-entrega consumista.

O capitalismo entranhou-se no nosso dia-a-dia aproveitando-se de uma das nossas fraquezas: a sedução pelo presente. Por isso, temos tantas datas comemorativas: Dia dos Namorados, dos Pais, das Mães, das Crianças, da Secretária, do Professor, da Mulher, dos Finados, entre tantas outras.

Então, de um lado, ganha o referido sistema que enche de grana as contas dos seus mercadores e, do outro, a pessoa que recebe um presente. Ironicamente, também ganha o presenteador, pois ele envia o presente, fica de boa com o presenteado e os seus e pode dormir o sono dos justos.

E assim, dá-lhe encomenda de presentes e suvenires, mensagens fonadas, serenatas e tudo o mais que você ouse pensar, sem que haja a necessidade de que marquemos presença junto à pessoa homenageada. E, nesse quesito, os políticos são emblemáticos, com suas enxurradas de malas-diretas nos aniversários dos eleitores.

Só que o verdadeiro amor ou amizade necessitam de algo mais. Eles precisam da presença, além ou em lugar do presente. Mas, quem há de? Numa época em que nos falta tempo e disposição emocional ou espiritual para tanto.

O trágico e triste nisso tudo é que, nesse consumismo desenfreado e nessa ausência de solidariedade e comunhão, tudo nos leva a pensar no objeto, no presente e não na presença. Mas esquecemos (ou fazemos questão de não lembrar) que o sentimento é algo que não cabe em qualquer serviço de delivery.

Obs: O autor é Jornalista e Gestor Cultural.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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