Rejane Menezes 15 de dezembro de 2020

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Sempre que o final do ano chega, a proximidade do natal e do início de um novo ano mexe com todo mundo. Uns mais, outros menos. Mas de alguma forma, sempre mexe.

Existem pessoas que sentem muita tristeza nesta época, seja pela perda de entes queridos, seja por algo que não sabe explicar, um amor que acabou, enfim, tendo ou não motivos, sentem-se tristes, como se fosse uma consequência natural desta época do ano.

Outras pessoas se sentem mais felizes, mais animadas, empolgadas. Seja pelo clima que fica no ar, de festa, de alegria, seja pelas compras a fazer, seja pelas férias tão planejadas.

Há também quem goste desta época por razões religiosas, por ser a maior festa do cristianismo, a comemoração do nascimento do salvador do mundo, Jesus Cristo.

Não importam os motivos, o final do ano mexe com cada um de nós, isso não podemos contestar. E, fico pensando, como seria bom se, realmente, aproveitássemos o final do ano para fazer uma revisão de nossa vida durante os últimos 12 meses e, encontrando o que deu errado e, sobretudo, o que fizemos de errado, procurássemos consertar os estragos.

Daí, poderia acontecer outro tipo de nostalgia, de tristeza, o de sentirmos saudade daquilo que gostaríamos de ter sido e não fomos. Já imaginou como seria bom se pudéssemos ter a clareza, a lucidez, de encontrar cada momento em que fomos injustos, faltamos com a caridade, não tivemos paciência com os outros ou nos sentimos donos da verdade? Quantas vezes deixamos de lado a humildade neste ano que termina? Quantas vezes fomos esnobes ou presunçosos? Teríamos a oportunidade de reparar boa parte de nossas falhas, no mínimo sendo corajosos o suficiente para pedirmos desculpas a quem ofendemos.

Vivemos em cidades, mas, às vezes, parece que vivemos mesmo é na selva, sempre alertas e competitivos, para que ninguém nos passe a perna ou se sobressaia, nos deixando para trás.

Temos um grande arquivo em nossa cabeça, cheio de gavetas onde guardamos tudo que nos acontece. Embaixo deste arquivo, tem um tapete para onde varremos, muitas vezes, as nossas sujeirinhas pessoais. Daí, amaciamos o tapete, fechamos as gavetas e seguimos em frente, convencidos de que somos seres humanos perfeitos e superiores.

Mais um ano vem aí, um ano cheio de previsões, profecias e misticismo. Um ano precisa ser diferente. 2020 é um ano que, se pudéssemos, apagaríamos da nossa memória. Depois de 180 mil portes registradas, por causa da Covid-19, depois do assustador número de infectados, no Brasil e no mundo, 2021 não tem outra opção a não  ser, definitivamente, um ano melhor.

Todos estão cansados, exauridos, tristes, sofridos, diante de uma pandemia que, apesar de assustadora e mortal, parece que, para alguns, continha sendo apenas uma “gripezinha”.

Para nós, sobreviventes dessa pandemia, vivendo em isolamento social, usando máscaras e álcool em gel em nosso dia a dia, o romper do ano novo será diferente. Será melhor, será pior que os anos anteriores? Não sabemos. Mas esperamos que seja melhor. A humanidade precisa de um ano novo melhor ou, como dizia uma personagem de um desenho animado, que “menos pior”.

Será que conseguiremos ser, também nós, diferentes? Quer queiramos ou não já estamos todos sendo diferentes do que éramos há nove meses. Em isolamento social desde 13 de março de 2020, e tendo o privilégio de já trabalhar em casa, saí apenas 4 vezes nesse período: duas vezes para ir ao banco, uma para desbloquear a senha do cartão e outra para fazer a prova de vida e duas vezes para votar.

Quem sabe não é chegado o momento de criamos coragem de abrir as nossas gavetas e fazer uma arrumação neste emaranhado de ações e sentimentos, dos quais somos feitos? De repente, se a gente consegue, arrumar, pelo menos, uma gavetinha que seja, a saudade que sentiremos no final do ano que vem, pode até ser bem menor. Quem sabe, este ano, não conseguimos ser, não o que somos, mas quem devemos?

Obs: A autora é jornalista,  e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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