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“É este galego que veio comandar-nos?” – perguntou o arcebispo de Buenos Aires sobre o novo Inspetor, que chegara da Espanha, para assumir a Inspetoria Salesiana da Argentina Sul, com sede em Buenos Aires. Acontece que esse “galego” era o Padre Ângelo Fernandez Artime, hoje Reitor Mor dos Salesianos, 10º Sucessor de Dom Bosco, e o arcebispo, Jorge Mário Bergoglio, é hoje o Santo Padre, o Papa Francisco. “Foi assim o começo das boas relações,” que conforme declarou recentemente o próprio Francisco, até nos momentos difíceis o arcebispo teve oportunidade de conhecer cada vez melhor o Inspetor salesiano, que se distingue, disse ele, “pelo serviço e pela humildade”.
Agora, o encontro do Pontífice com a Família Salesiana, na Basílica de Maria Auxiliadora em Turim, nesse mês de junho passado, por ocasião da comemoração do bicentenário do nascimento de Dom Bosco (16 de agosto de 1815) foi definido por ele como um mergulho na sua infância , um regresso ideal à sua Argentina. “Os salesianos formaram-me para a beleza, o trabalho e a afetividade, por isso, sinto-me tão agradecido” – disse ele. “Gostaria de vos contar a minha experiência com os salesianos” – falou espontaneamente o papa, entregando o discurso escrito ao Pe. Ângelo. E continuou, narrando alguns episódios relativos à sua família. Começou pelo pai, que quando chegou a Buenos Aires, seus primeiros contatos foram exatamente com os salesianos da paróquia de São Carlos. Era salesiano um dos primeiros amigos de Jorge Mário, Lorenzo Massa, que fundara com alguns meninos de rua uma equipe de futebol, com as cores de Nossa Senhora, vermelho e azul, o “San Lorenzo de Almagro,” que o Papa Francisco comentava com um sorriso, “é o melhor time da Argentina”. Foi salesiano, o Padre Enrico Pozzoli, quem abençoou o matrimônio dos pais de Jorge Mário, e que o batizou também. “Acompanhou meu Pai e a mim por toda a vida. Ia confessar-me com ele, quando adolescente, e guiou a minha vocação e foi quem me orientou no momento de passar do seminário para a Companhia de Jesus.” Sobre este salesiano, o arcebispo Bergoglio escreveu uma memória em seis páginas datilografadas publicadas pelo L´Osservatore Romano em 2013. Com sua mãe gravemente enferma, Jorge Mário e dois de seus irmãos foram enviados como internos na escola de Dom Bosco onde, disse ele, “aprendeu a amar muito Nossa Senhora”. Após a morte do pai e do amigo Pe. Pozzoli, o jovem Jorge Mário continuou vínculo estreito com os salesianos e todos os anos, no dia 24 de maio, disse ele “levava flores e rezava à Virgem na Igreja de Nossa Senhora Auxiliadora.” Nessa fala espontânea aos salesianos no bicentenário de Dom Bosco, o Pontífice ainda elogiou no Santo a capacidade “de educar a afetividade dos jovens, porque sua mãe tinha educado sua afetividade. Regra que é válida também para os salesianos de hoje, aos quais o Papa perguntou se na educação dos jovens citam o exemplo de Mamãe Margarida, “mulher simples e pobre, que fez crescer na afetividade o coração do filho.”
Obs: O autor é arcebispo emérito de Maceió.