Sabia que o ódio só mataria a si mesma. Mas como ignorar aqueles malditos e infindáveis dias em que a sogra se vestia de madrasta e a transformava em empregada da casa? E o marido era mesmo filho da mãe. Jamais contrariava a vontade dela.
Nas conversas deles o nome dela só era permitido para reconhecer o quanto ela estava sendo generosa em acolhê-los. Estava se cansando disso. O ódio que sentia da sogra se espalhava pela casa. Logo, logo, chegaria até o marido. Aí não haveria mais salvação. Se não fosse tão covarde, iria embora. Mas aos covardes só resta desistir da vida. Morrer. Ou num ato extremo e único de coragem, matar a sogra.
Decidiu. Era ela quem fazia a comida. Era seu o livre-arbítrio. Foi para a biblioteca da faculdade. Descobriu a planta que existia em profusão no Parque Municipal da cidade. O efeito era lento. Mas ela não tinha mais nenhuma pressa.
Obs: A autora é mineira. Formada em- Letras pela UFMG, pós-graduou-se na UEMG em Administração Escolar. Às vezes é prosa, outras, poesia. Participou de várias coletâneas, Livro da Tribo, revistas e jornais literários, impressos e virtuais, com poemas, crônicas e contos. Publicou três livros de poesia pela Editora Penalux: Equilibrista (2016), Pontiaguda (2017), Náufraga (2018). Nesse ano, 2020, publicou seu primeiro livro de contos – O Insuspeitável perigo do instante-beijo e outros contos –