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Um instante de lucidez.
Seria esse o insight que procuro,
não fossem as obrigações econômicas
e a tirania onipresente
dos ponteiros do relógio,
nesse mundo pragmático.

De fracasso em fracasso,
temo o dia de ver
o meu fantasma no espelho,
como punição por fingir
a vida toda ser um.

Cheguei,
num certo período da minha existência
a acreditar-me livre para fracassar.
Mas essa teimosa e desproporcional
esperança acaba sempre maior
do que qualquer realidade mensurável.

E lá vou eu,
sonambulicamente lúcido,
tentando provocar nos meus sentidos
o ato de criar.

Esse fracassado, não bastando,
ainda odeia e despreza aqueles
de quem roubou inspiração.
Maldito Borges!
Insano Raduan!
Tresloucada Clarice!
Maluco Pessoa!

Mas nunca aceito
que o público,
essa eterna besta,
ignore um escritor
como me aponto.

E agarro-me à ilusão tosca de que
se falam mal de mim,
é devido a esse nosso costume
de fazermos isso com quem tem
a ousadia deselegante de se destacar.

Grudou-se em mim,
feito um chiclete sob um sapato
sobre um asfalto quente,
a afetuosidade salobra que recebi
onde me apresentei.
Algo que mais parece
com uma cordialidade reservada
aos cadáveres ambulantes.

Mas tenho parte de culpa nesse viço.
Passei muito tempo arrotando fartura,
raramente gozada e geralmente perdida,
evocando em mim a soberba e a pretensão.

Tentei enfeitar minha persona
com um atributo
que a tornasse interessante,
outra forma de dizer (e assumir)
que menti para mim
e para os meus.

E a dor é essa:
não estar livre para fracassar
nesse mundo de Pinóquio.

Obs: O autor é Jornalista e Gestor Cultural.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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