(www.rebelo.org)

Dizem que os homens são mais pragmáticos. A verdade é que, quando acaba, viramos todos umas grandes piabas morrendo afogadas.

Já sabemos que, para muitas mulheres, o melhor remédio para emagrecer continua sendo a separação.

Já sabemos, também, que o maior medo do homem é que ela case com outro.

A gente faz uma equação matemática termodinâmica nuclear da repimboca da parafuseta do Bóson de Higgs para tentar descobrir se é hora de acabar um relacionamento.

E quando acaba, enfim e de alguma maneira, elas ainda conseguem manter viva a poesia. Dão de ombros, erguem a cabeça e avante.

É verdade, demora um pouco. Ou demora muito. Ou não demora nada. Jamais vamos saber o quanto elas sofreram chorando no pé da escada ou nas noites de sábado vendo Netflix. Mas elas conseguem encontrar esperança em novos tempos.

A gente, com o passar do tempo, não encontra mais alento. Vamos perdendo a poesia, tento por tento, até não sobrar mais nada aqui por dentro.

Nada que dê vontade de cuidar, dividir, abraçar, quiçá até telefonar.

Já tive raiva, já tive ciúme. Restou apenas um pouco de curiosidade: qual é o maior medo que as pessoas têm em acabar, de verdade?

Será o de terminar uma relação cuja expectativa, depois de tanto tempo, era de não haver mais encerramento?

Será o de olhar para trás e nada encontrar? Será que conseguimos imaginar toda vivência e experiência, risadas e presepadas, agora inúteis porque não mais as teremos? Então tudo aquilo que não existirá amanhã, enfim, anulará tudo aquilo que existiu ontem?

E se real for aquele antigo poema — um tanto conveniente — de que a gente só ama de verdade uma ou duas vezes na vida e o resto é mera adaptação ao próximo? A nossa conta está em quanto? Pode pagar agora e ir embora ou fiado só amanhã?

E se crédito tivermos na praça, tem reembolso? Pode vender a vaga no Mercado Livre ou no OLX? E haverá alguém a comprar, sabendo que vai terminar?

Sabe-se lá, elas conseguem começar de novo. E a gente vai sorrir para fora, enquanto elas choram por dentro. Por lembrar da perfeição que eram, mesmo quando perdidos nas imperfeições que não restam.

Como nunca gostei de curiosidades e cálculos, quando me vi curioso e calculando, parei de pensar.

Não é fácil calcular horas, dias, semanas e quantos meses uma pessoa leva para conhecer 1% das sinapses que ocorrem num cérebro afogado. E depois do primeiro por cento, quantos outros meses para o segundo por cento?

Quanto tempo para conseguir entender que a mudez e a miudeza de interesse não significam o desinteresse?

Não sei do medo dos outros. Também não quero saber. E tenho raiva e ciúme de quem sabe. (23 de março de 2017)

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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