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Pelas asas do sonho, num quente dia de verão, retorno ao Café de Flore e o encontro quase vazio. Que bom, pensei! São quase 17 horas. Escolho uma mesa do lado de fora, que costumo chamar de vitrine e com as minhas décadas bem vividas viajo para um tempo longínquo e me vejo como uma jovem dos anos loucos(1930 – 1940), saltitante nos meus sapatos de Cinderela e usando um pequeno chapéu sobre os cabelos louros. Apesar do sol, que nessa época atravessa quase a noite, observo os casais tomando seus lugares, elegantes e sorridentes. Aqui quase todos se conhecem, observo pelos salamaleques ao se cumprimentarem. Finas e longas taças de cristal tintilam ao serem tocadas para o tradicional brinde! Ergo a minha e vejo diante de mim uma mulher no esplendor dos trinta anos. Alta e bem magra e com um corpo harmonioso. Diferente da maioria das senhoras presentes, veste uma pantalona de cetim beje, com um casaco sem mangas e um profundo decote em “V”, deixando aparecer as saliências do pequeno busto. Os cabelos pretos, cortados curtíssimos presos na testa por uma tiara de veludo e a boca pequena em forma de coração, pintada exageradamente de vermelho. Os olhos, cor de violeta, quase encobertos pela cortina dos cilios carregados de rimel, são lindos. Pergunta: posso lhe acompanhar no brinde? Claro. Respondi erguendo a taça! Pedi que sentasse e começamos uma conversa, como costumamos dizer – sem pé nem cabeça. Com certeza, nem eu nem ela pertencia aquele mundo ali presente, ou eram eles os usurpadores? Na medida que o tempo passava mais animado ficava o Café. O riso corria solto como o vinho. Ao fundo, um homem charmoso cantava belas e românticas canções de amor! Eu e a jovem conhecíamos muitas das estranhas figuras que por ali circulavam, sabíamos seus nomes e o que faziam. Mas uma coisa eu notava. Ninguém olhava para nós, parecíamos invisíveis. Estávamos na maior euforia por conta das várias taças entornadas, quando um vozeirão gritou chamando à atenção dos presentes! Viva Claudine! Finalmente te encontrei! Olhei para a moça à minha frente e perguntei. Você pertence a essa época? Ela riu e respondeu. E você? Foi assim que nos conhecemos. Daí por diante formamos um trio e saímos para conhecer as loucuras daqueles seres mágicos e criativos que fizeram de Paris o paraíso dos pintores, poetas e escritores, pobres ou ricos, para os quais o importante era curtir à vida, fosse de que jeito fosse. Quem sabe se não estavam prevendo os horrores que o mundo ia viver com a segunda guerra mundial! 08/020