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(para Jorge Luis Borges)
Inferno,
tormento temporal,
metáfora do imortal,
a dor perfeita que não destrói,
para sempre conhecida
pelos herdeiros da ira divina.
Na literatura,
o inferno Quevediano
é resultado
de anacronismos espirituosos,
mas oportunistas.
E para Torre Villarroel,
apenas metáforas complacentes.
Inferno,
especulação gasta com o tempo,
sua noção não é exclusiva
da igreja católica.
O Cristianismo atraiu para si
todas as verdades
que estavam disseminadas
pelas falsas religiões.
Mas, eternizar o castigo
não é eternizar o Mal?
Cabe indagar:
onde finda o Mal?
Onde começa o Paraíso?
Porque horroroso
é o atributo da eternidade.
O inferno,
segundo a imortalidade,
É o nome blasfematório
do esquecimento de Deus.
De índole disciplinar,
postula que
a temibilidade do castigo
está precisamente em sua eternidade,
e que colocá-la em dúvida,
é invalidar a eficácia do dogma
e fazer o jogo do diabo.
A eternidade de céu e de inferno
impõe-nos um jogo cruel:
concede-nos o direito atroz
de nos perdermos,
de insistirmos no Mal,
de recusarmos as operações da graça,
de sermos alimentos do fogo que não finda,
de fazermos Deus fracassar em nosso destino.
Não nos disseram
que esta vigília sem consolo
já é o inferno.
Que esta vigília sem destino
será minha eternidade.
Obs: O autor é Jornalista e Gestor Cultural.