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Em um pequeno monastério flutuante sobre um lago vivem um velho monge e seu jovem aprendiz. Enquanto o menino explora os arredores, ele se deixa levar por seus instintos. Porém, o mestre sempre está pronto para ensinar suas lições, e mostra para o garoto que as consequências de pequenos atos podem durar a vida toda. O filme do diretor sul-coreano Ki-duk Kim, “Primavera, Verão, Outono, Inverno…e Primavera”, conta a história do desenvolvimento da consciência humana e do descobrimento do sentido da vida.

A parábola do Pai Misericordioso (Lc 15, 1-3.11-32) é uma das mais lindas e profundas narradas no Evangelho de Lucas. Porém, ela não pode ser compreendida de uma forma simplista. Analisando seus personagens nos deparamos, em primeiro lugar, com o filho mais jovem. Como todo jovem imaturo, o filho pega sua herança e parte para aventuras. O interessante aqui é que o pai não faz nenhuma repreensão ou recomendação. Ele simplesmente deixa com que o filho viva suas experiências. O filho mais jovem chega ao “fundo do poço” e aprende a fazer uso das coisas que possui voltando para casa transformado. O pai o recebe com alegria e prepara uma festa. O motivo da festa não é a chegada do filho, mas como o filho chega. Ele viveu sua experiência de vida e se transformou com ela. Saiu jovem de casa e volta um homem, um ser amadurecido. O filho mais velho permanece em casa. Talvez tivesse ele a vontade de se aventurar na vida como o irmão, mas não é capaz disso. Por isso, prefere fazer o papel de “bom filho” e viver sob a proteção do pai. Este filho mais velho é o personagem que não se transforma. Ele permanece infantil do começo ao final da história. Não é por menos que ele é incapaz de compreender a festa oferecida pelo pai. Ao invés de se alegrar com a transformação do irmão ele sente raiva, ele sente inveja, pois ainda é uma criança. O pai, por fim, é aquele que confia na chegada do filho transformado e o recebe com alegria. Ele é misericordioso não porque sente dó. Misericórdia é a compreensão do processo que o outro está vivendo. Por isso, o pai se alegra com o filho mais jovem e tenta explicar ao filho mais velho a situação. Ele compreende o processo de desenvolvimento dos dois. O mais importante é entender esta parábola no contexto em que ela foi contada. Jesus recebe e faz refeição com os chamados pecadores. Por isso, Ele é criticado pelos fariseus. Os fariseus eram religiosos que cumpriam os preceitos religiosos e frequentavam o templo. Se compararmos com os dias atuais, os fariseus seriam os padres, pastores, bispos, agentes de pastoral, os leigos que frequentam uma comunidade cristã. Porém, para os fariseus sua salvação estava garantida por cumprirem suas “obrigações” diante de Deus. Os outros eram considerados pecadores. Aqui encontramos falhas gravíssimas. Religião não é um cumprimento de obrigações que nos dá direitos, mas um caminho de transcendência que nos transforma cada vez mais em “justiça de Deus” no mundo. Ser justiça de Deus é o objetivo da religião. Esta justiça deve ser praticada na família, no trabalho, no bairro, na cidade. A simples pertença a uma religião não é garantia de verdadeira conversão: profunda transcendência e prática de justiça divina. A caminhada do verdadeiro cristão é uma caminhada que o faz transcender e através desta transcendência a construção de um mundo justo. Nosso lugar é o mundo concreto, caso contrário, uma paróquia pode se tornar facilmente uma “microempresa” com operários trabalhando para a sua manutenção, sem causar transformação concreta nas pessoas e na sociedade.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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