que não me digam o que devo beber
essas dores de cabeça não vêm do vírus da vez
faz anos
mulheres morrem massacradas
pelo poder que o mundo dá ao macho
crianças morrem sob
o poder que a família dá ao pai
diferentes morrem
pelo poder que se dão
os indiferentes
que não me digam o que devo dizer
essas dores de garganta não vêm de bactérias
faz anos
que parte de mim
grita rouca enquanto a outra
rasga inutilmente as vestes
a cada morte embalada na capa
de seu amor-propriedade
ou no conceito arraigado
que homens são pontos finais
que não me digam como devo escrever
essas dores permitem que eu desnude a língua.
Obs: A autora é mineira. Formada em- Letras pela UFMG, pós-graduou-se na UEMG em Administração Escolar. Às vezes é prosa, outras, poesia. Participou de várias coletâneas, Livro da Tribo, revistas e jornais literários, impressos e virtuais, com poemas, crônicas e contos. Publicou três livros de poesia pela Editora Penalux: Equilibrista (2016), Pontiaguda (2017), Náufraga (2018). Ainda este ano publicará seu primeiro livro de contos e o quarto de poesia.