3 – Todos São Criados na Imagem e Semelhança de Deus!        

“Não Julgo segundo os critérios do homem; o homem vê as aparências, mas o Senhor olha o coração”.(1Sm 16, 7)

Antes de 1990, o ano  do ECA, os agentes da PAMEN trabalhavam com menores em conflito com a Lei, menores  que moravam na rua e estavam habituados com várias formas de vícios. Nalguns casos acompanhados pela PAMEN, constatava que não existia um espaço separado para adultos e adolescentes detidos. Os agentes da PAMEN, junto com outros órgãos, como FUNCAP, reclamavam dessa situação até que mudou para o melhor. Quando não era possível deixar os menores separados dos adultos presos, recorriam à PAMEN ou à família para ajudarem no processo dos cuidados para com os menores. Pouco a pouco as autoridades foram arrumando lugares para separar os menores detidos dos adultos presos.

A PAMEN se tornava uma espécie de tutor desses menores em conflito com a Lei. Tivemos a autorização da Juíza para acompanhá-los durante as audiências com as autoridades, mas sem direito de falar. Durante o acompanhamento de diversos casos percebeu-se a diferença nas atitudes dessas autoridades; durante a audiência: algumas tratavam os menores com respeito e outras os humilhavam.

Os encontros aos sábados continuavam e eram momentos de partilha não só da vida, mas também do pão.   Depois da equipe das jovens a Sra. Rosilda Von, com a ajuda das senhoras Miraselva e Rute, preparavam um lanche reforçado de sopa de verdura e outros alimentos naturais da região, temperada com ossada de boi. Os meninos, acostumados com “chopinho”, logo reclamavam:

              “Irmão, esta sopa não desce, é lisa demais”.

Com o passar do tempo eles foram percebendo que a sopa era uma comida mais forte do que o “chopinho” e aliviava a fome até a tardinha.  Por fim alguns até pediram a receita para que suas mães fizessem a sopa em casa.

Logo no início do acompanhamento dos menores, vimos a necessidade de conhecermos as suas famílias. Foi uma bonita e, ao mesmo tempo, difícil experiência. Foi percebido o porquê das atitudes dos menores e seu modo de SER. Era um reflexo da realidade que viviam em suas famílias.  Muitos deles eram desnutridos, com a mente confusa, com um relacionamento familiar enfraquecido. A maioria não tinham, nem buscavam, um relacionamento com Deus.

Sabemos que a ação da miséria humana faz uma influência espiritual negativa na pessoa. Toda essa situação carregada de influências negativas dentro da família, fazia com que os menores repetissem os seus relacionamentos desumanos fora da família. Essas visitas domiciliares foram chaves para se buscar uma maneira mais realística de acompanhamento das crianças e adolescentes que chegavam até nós: menores agressivos, com baixa autoestima e uma grande falta de cuidado para consigo e com os demais.

Sendo conhecedores dessa difícil realidade em que viviam os menores e suas famílias, buscamos orientá-los e despertar neles os valores como seres humanos, e, de modo especial, como filhos de Deus, criados a imagem e semelhança do Criador.  Eram filhos prediletos de um Deus que é amor e que quer que todos os seus filhos tenham uma experiência de serem amados, cuidados com ternura e compaixão, e que sejam sinais do seu amor na família e na sociedade.

Devido a situação dos menores e o preconceito que enfrentavam na sociedade, era difícil convencê-los que cada um tinha seu valor e era dotado de uma identidade especifica, que não existia outro ser humano igual, que eram pessoas únicas, com uma missão a cumprir.

Cada ser humano tem suas impressões digitais, algo que o identifica como ser único no mundo, que não existe e nem existirá outra pessoa com impressões digitais iguais. O criador criou cada um como seres únicos e privilegiados, todos são um milagre da criação, e Deus ama a cada um na sua individualidade.

Uma cena simples poderia mostrar a importância deste conceito de querer ser “alguém” na vida, de ser reconhecido e respeitado:

 Hei você! Hei coisa!  “Meu nome é Pedro! Sou filho de Maria e José! Moro na Rua do Norte, Bairro da Prainha, e estudo na Escola Gonçalves Dias. Sou cidadão brasileiro e quero ser útil para nosso país. Estou lavando carros para ganhar um pouco para a minha família e me preparando agora para ter um futuro melhor”.    

Algumas mães, com tanta esperança de serem valorizadas pelo “sucesso” dos filhos e para os filhos terem um futuro melhor e, também, ajudar na sobrevivência da família, dizem assim: “Eu quero que meu filho seja alguém na vida”. E a nossa reposta para ela é: “Minha senhora, seu filho já é alguém na vida. Ele é seu filho que foi concebido num ato de amor entre a senhora e o seu marido, passou nove meses de cuidados e ternura no seu ventre, e nasceu sob a proteção de Deus, criado a Sua Imagem e Semelhança. É uma pessoa única, com deveres e direitos, com a missão de ajudar na construção de uma sociedade onde as famílias possam conviver mais unidas. Seu filho ou filha, tem uma vocação, um chamado de ser um bom filho ou boa filha obediente ao Deus Pai Criador, que fará dele(a), um(a) bom(a) cidadão(ã) buscando fazer a vontade Dele em suas vidas, na vida de suas famílias e cumprir sua missão no mundo”.

Mais uma vez retomamos a questão da valorização da pessoa humana e tentamos convencer a família, por mais pobre que seja, que ela tem um grande valor e é amada por Deus, e tem uma missão para cumprir. Com essa orientação e a nossa maneira de se relacionar, as mães ficam mais convencidas que são realmente amadas por Deus, pelo amor que, nós mesmos, compartilhamos com elas, por gestos simples, mas repletos de afeto, ternura e a compaixão.

Obs: Texto retirado do Livro do autor Pastoral do Menor, com a sua autorização.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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