[email protected]
http://ronaldo.teixeira.zip.net/
http://lounge.obviousmag.org/espantalho_lirico/
O anacronismo educacional brasileiro continua produzindo surrealismos a que sequer as mais alucinadas telas de Dali conseguem fazer concorrência. A bola da vez – e de antes e de sempre – é a velha e velada divisão entre os adeptos das humanas e os das exatas.
Afora alguns gênios, a exemplo de Freud e Einstein, é ponto pacífico que quem gosta de uma destas duas áreas do conhecimento geralmente detesta a outra. Mas, mesmo nesses dois geniais colaboradores da humanidade, percebemos que os seus maiores legados pendem mais para um lado, ou seja, em Freud, para as humanas, e em Einstein, para as exatas.
O tema me vem à cabeça devido ao início do calendário escolar, por ser pai de dois estudantes e por ter passado por períodos traumáticos na fase estudantil – apesar de sempre ter sido um amante das humanas e fã ardoroso de literatura – devido à forma como essa divisão foi e continua sendo trabalhada na escola.
Nas humanas, a literatura escolar empurra livros paradidáticos inadequados para a faixa etária do aluno. E, como conseqüência, aqueles que gostam ficam ressabiados com a literatura brasileira e os que tendem para as exatas, concluem a série aos trancos e barrancos e passam, com razão, a sentir ojeriza pela disciplina.
Nas exatas, ao invés de se ensinar as necessidades básicas, despejam uma tal de matemática moderna que só complica a vida do sujeito. E, como resultado, os das humanas travam com relação aos números e os das exatas ficam desestimulados com os inúteis cálculos.
O saldo não poderia ser outro: nas exatas, jovens terminam o colegial (antigo segundo grau) sem saber as quatro operações, porcentagem, juros e taxas, mas entupidos de equações e cálculos que eles sequer usarão em suas vidas. E, nas humanas, vão para uma faculdade – a minoria! – sem saber escrever e sem ter descoberto o prazer da leitura.
O triste disso tudo é que esse trágico quadro continua porque interessa (e muito!) aos que não querem ver uma sociedade pensante. E assim, passamos pela escola sem descobrir o verdadeiro gosto pelo saber, mas apenas o sal do seu sabor.
Obs: O autor é Jornalista e Gestor Cultural.
Imagem enviada pelo autor