Fico feliz, de verdade, que várias de minhas amigas na faixa dos 40 a 50 anos de idade estejam superando traumas antigos e julgamentos sociais para sair com homens bem mais novos. Por vontade própria, sem pressão, apenas porque querem e porque podem.
Consigo enxergar (e admirar) a felicidade delas com a mesma facilidade que tenho em identificar quando uma pessoa não tem interesse genuíno na outra.
E embora o interesse e o desinteresse nada tenha a ver com idade, a diferença cronológica às vezes direciona as expectativas para argumentos enviesados.
Por décadas, a gente se acostumou a colocar a diferença de tempo como parâmetro para uma relação entre duas pessoas com idades e experiências contrastantes.
Embora os homens não tenham a mesma (ou nenhuma) preocupação com essas questões de idade, confesso que durante toda minha vida sempre corri para bem longe das jovens mancebas e das ninfetas assassinas.
Não por ideologia ou idealismo. Apenas por falta de paciência e energia. Também por um apego muito particular à paz e tranquilidade, duas variáveis difíceis de encontrar nas pessoas muito mais jovens do que a gente.
O problema é que a cada nova geração os jovens parecem bem mais velhos do que a gente era quando tinha exatamente a mesma idade. Não sei se é excesso de Netflix ou muito conhecimento adquirido pelo Youtube.
Ou talvez seja apenas eu ficando mais velho e mais safado.
Há uma imensidão de jovens com uma compreensão do tempo que eu nunca tive quando mais novo, mas que gostaria de ter tido.
No meu caso, parece pior porque além da incompreensão do tempo parece que comecei a perder a total noção do meu próprio tempo.
Uma pessoa com 15 anos a menos que você tem exatamente os 15 anos pela frente que você não vai ter mais. Ela tem uma sobra de tempo (e energia) mais do que suficiente para se aventurar, errar, quebrar a cara, experimentar e tentar de novo quantas vezes quiser. Inclusive, com você.
Enquanto você não tem mais esse tempo para criar expectativas que nunca se concretizarão.
Por me achar um completo tempo perdido para as mulheres – de todas as idades – sempre fiquei com peso na consciência por eventualmente ser responsável por esperanças e expectativas.
Hoje me pergunto se não estive errado durante todo esse tempo.
Quando duas pessoas têm consciência do tempo que sobra e do tempo que não existe mais, qualquer medição do tempo parece uma grande perda de tempo.
Ao mesmo tempo, quando uma pessoa não se importa com o tempo que pode perder, outra pessoa pode não se importar mais com o tempo que já perdeu. E as duas se entendem e ficam juntas pelo tempo que quiserem e do jeito que acharem mais conveniente.
Parece meio triste porque é como se a gente excluísse o “para sempre juntos” que tantas pessoas procuram nas equações amorosas, mas quantos casais com menos de 50 anos de idade a gente conhece que estão (ou ficaram) para sempre juntos?
Não sei se minhas amigas coroas começaram a entender isso ou sempre entenderam e nunca me falaram.
Também não sei se minha pança e minha careca me tornaram menos exigente com as expectativas alheias.
Acho até que a cada ano eu entendo menos as pessoas do que entendia no ano anterior. Mas tenho procurado me preocupar menos com isso. Sei que, em algum momento do tempo, alguma guria de cabelos vermelhos vai ter pena da minha ignorância e me ensinar o que aprendeu no Youtube. Talvez eu me aposente antes. (maio de 2019)
Obs: Imagem enviada pelo autor:
Foto em destaque:
Ano de 2003. Foz do Iguaçu, Paraná.
Um pier próximo às Cataratas do Iguaçu.
Câmera Pentax MZ-7 (analógica) com filme monocromático.