1. O clima de Natal e Ano novo nos invade, reavivando a ânsia de saciar a necessidade de pão, de superação, de beleza e de poder. Essa inquietação que nasce da carência das mínimas condições de existência, da busca esperançosa de reconhecimento, da vontade represada de festejar, da curiosidade inerente à nossa incompletude… e de muitos sonhos, nos tornam mais fragilizados e sensíveis. Esse tempo e uma conjunção de fatores é uma das oportunidades de ouro aguardadas e, até estimuladas, por aparatos midiáticos, religiosos e mercadológicos.
2. Então, não é se estranhar que seja também um momento oportuno para missionários, mercenários e mercadores, de todos os credos e latitudes, para veicular suas mensagens, bem intencionadas ou inconfessáveis, e conseguir atrair prosélitos, militantes e clientes. A rigor, “nada haveria de nocivo se, cada vez que sonha, o ser humano acreditasse em seu sonho, se observasse a vida, se comparasse suas observações com seus castelos no ar e se trabalhasse para a realização de seu sonhos – se existir contato entre sonho e vida… tudo bem”.
3. Aliás, as tarefas permanentes da vida só se realizam quando se agarram nas “ondas” , nas várias conjunturas históricas. Embora se deseje que a racionalidade da vontade oriente as ações, sua realização só acontece quando, pessoas e grupos, “surfam” na “outra racionalidade” que vem da situação, da emoção, do subjetivo, do imaginário. Alguém que se pretenda consciente, daria sinais de incompetência se combatesse ou ignorasse o tempo do real, ao imaginar um cenário de pureza de propósitos. A vida só se dá na tensão e na contradição do concreto.
4. Sabemos que a primeira condição da cura é admitir o fato da doença. Cercado de todas as “enfermidades”, o senso popular prefere viver e ser feliz, agora, mesmo sabendo que pode dever ou iludir-se. Já a grandeza da “consciência” é transmitir conhecimentos acumulados e ajudar a extrair “saídas” duradouras para as inquietações dos oprimidos. Assim, quem sonha com uma nova ordem social não pode esquecer que “ficar longe do povo é uma forma de ficar contra ele”; que “partir da porta que o povo oferece” é condição para ajudá-lo a chegar onde ele precisa.
5. Cantemos e exultemos! HOJE é o dia que fez o Senhor de todas as convicções. Somos peregrinos da Pátria onde o choro será apenas de alegria; nos alimentamos da justeza do resgate da vida fraterna, sempre. Longe de sair do “paganismo” do mercado, em todos os espaços, a ordem é mergulhar, de cabeça, no mundo que nos rodeia, sem deixar ou, quem sabe, até para reafirmar nossa “fé na vida, fé no povo, fé no que virá… pois, nós podemos tudo, nós podemos mais, vamos lá fazer o que será!” Boas festas e viva esse meio que é fim e que é começo!