Onde tem pessoas morando juntos, sempre ficam devendo muita coisa uns aos outros. Isto se torna mais evidente quando convivem de perto. Pessoas que se amam, tambem podem ferir-se. Quanto mais perto se encontram, tanto mais as feridas podem se aprofundar. No começo tudo é fácil. Duas pessoas se encontram e se gostam. É como se abrissem uma conta em conjunto.
Todos dois depositam em seguida: Aqui uma flor ofertada, alí um cartão postal, aqui uma ajuda, alí uma palavra bondosa etc., tudo isto é depósito na conta dos dois. Em pouco tempo é uma reserva gorda. Pequenas retiradas, uma briga eventual, não perturbam. Porque ainda tem uma boa soma. E os números permanecem no positivo.
Isto pode mudar aos poucos: As decepções aumentam e com os abusos diminue o esforço
de cada um. Todos dois depositam menos, mas continuam retirando o quanto podem. As amabilidades desaparecem e pequenas grosserias marcam o dia-a-dia. No lugar de atenção se vê distanciamento ou até castigo. Assim como antes uma bondade se respondia com outra bondade, agora uma ofensa se paga com outra ofensa. E um sentimento de desilusão se espalha.
Por algum tempo se vive assim, já que ainda há reservas. Mas finalmente a conta está no vermelho escuro. Chegou o limite; não há mas nada para retirar. O coração sente um calafrio.
Não há mais depósitos. Quando foi que se ouviu por último uma palavra amiga? Quando se viu um gesto delicado, quando se ofertou o último buquê de flor, quando teve o derradeiro jantar à luz de vela? Toda uma vida os dois ouviram falar de perdão e reconciliação, mas não praticam, nem vivem nem experimentam.
Diferente das regras do banco, diferente dos homens de terno preto e colarinho, a vida nos dá uma chance real ainda, a saber a chance de perdoar e a possibilidade de aprender a renovar esta conta falida. Podemos dar um crédito ao outro, podemos ir na frente com uma palavra amiga e com um gesto delicado, para assim pagar a própria divida.
Nesta Festa de Bodas de casamento desejo ao casal tudo de bom: sucesso, força de trabalhar, saúde, felicidade, bons amigos que dão sustento, e uma conta bem cheia no sentido de um futuro otimista.
Peter Lenz , empresário
Tradução e Comentário de Adolfo Temme
O tal empresário ofertou esta mensagem a um casal na festa de Bodas de prata. A mensagem serve também para outros grupos que se comprometeram a viver em comunidade na vida religiosa para juntos construir o Reino de Deus.
A conta conjunta-espiritual e material-de pessoas consagradas, unidas no mesmo ideal, deveria ser bem grande. O interesse de um pelo carisma do outro seria um depósito contínuo para o crescimento de um Corpo Unido que evangeliza por si só. Infelizmente, a realidade não é assim. Há tempo todo mundo trabalha para si, abrindo sua conta particular, seguindo seu apostolado próprio.
Isto não quer dizer que deva continuar nesta situação. Como podemos reativar a conta comunitária? Só pode funcionar com iniciativa própria de quem paga adiantado; de quem renuncia à realização particular, porque ainda acredita na força do conjunto. No Corpo Místico não pode haver organismo privado que seja independente do Único Coração.
Obs: O autor é Frade Franciscano, nasceu na Alemanha em 1940.
Chegou ao Brasil como missionário em 1964. Depois de completar os estudos em Petrópolis atuou no Piaui e no Maranhão. Exerceu trabalhos pastorais nos anos 80 em meio a conflitos de terra. Desde 1995 vive em Teresina no RETIRO SÃO FRANCISCO onde orienta pessoas na busca da vida espiritual.