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fui mãe
sem ter sido filha
guardava meus irmãos
o gato que lambia as lágrimas da caçula
e a galinha que nos dava o café da manhã
dentro do meu abraço de menina
muitas vidas depois
transpirava amor em cada dor de parto
amamentava
com os bicos do peito rachados
acalentava as madrugadas
sozinha
a cantarolar jazz ou chico buarque
às vezes beatles emendado ao choro
e a dançar pela varanda estrelada
nunca ouvi canções de ninar
em noites de cólicas
calçava a alma
com meias de funcho ou hortelã
deitava sobre ela o menino
adoçava as histórias que vivera
e medindo com os passos as tábuas do assoalho
esperava seu sono chegar
não conhecia as pérolas infantis
hoje
após tanto chão
aprendi que aconchego
não importa quem dá
importa que se dê
mãe é bem mais que um poema de maio.
Obs: Imagem enviada pela autora – Arte: Honoré Daumier – 1848