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Quando afirmo que o que mais impressiona no Cristianismo não é a cultura, a história, a igreja, mas sim o fato de que a visão de mundo que ele traz é a verdade, alguns sempre me perguntam: “mas não seria intolerância pensar assim?”, ou ainda: “como podemos considerar o Cristianismo tolerante, já que se ele diz ser a verdade, as outras religiões, se tomadas como um todo, devem ser consideradas falsas?”

Antes de responder a estas importantes perguntas, temos de tentar deixar claro o que as pessoas que fazem esta pergunta entendem por intolerância. Isso é importante porque na esmagadora maioria dos casos a raiz da opinião de que o Cristianismo é intolerante se encontra em um entendimento errado do que efetivamente devemos entender por este conceito. Vejamos.

  • Tolerância não é achar que tudo o que se diz é verdadeiro

Achar que tudo o que se diz é verdadeiro não é intolerância, mas sim descuido com a lógica. Se digo, por exemplo, que Cristo morreu e ressuscitou entre os mortos (Mateus 28, Marcos 16, Lucas 24 e João 20) e outra pessoa diz que ele não ressuscitou, temos aqui duas visões de um fato histórico que são inconciliáveis entre si e, portanto, que não podem ser ambas verdadeiras.

Será que a outra pessoa deve ter o direito de pensar, de dizer, de escrever o que ela pensa sobre o assunto da ressurreição de Cristo ou qualquer outro assunto, mesmo que eu saiba que é falso? É claro que sim. De fato, tolerância é aceitar que todos devem ter igual direito de dizer o que pensam (o que acreditam ser verdade), o que não quer dizer que tudo o que se diz é necessariamente verdadeiro.

Sabemos que duas pessoas podem ter crenças inconciliáveis entre si e defender que essas crenças são ambas verdadeiras, mas elas, por força da lógica, não podem ambas ser verdadeiras. Elas (as crenças) podem ser uma verdadeira e outra falsa ou ambas falsas, mas nunca ambas verdadeiras. Conforme disse antes, duas visões de mundo inconciliáveis entre si não podem ser verdadeiras. Isso não configura, portanto, intolerância, mas força da lógica.

  • Todas as religiões (e até o ateísmo) são exclusivistas

Devo ainda esclarecer que não apenas o Cristianismo, mas sim todas as religiões do mundo são exclusivistas, isto é, atribuem para si a exclusividade da verdade. É dizer, todas as religiões atribuem para si a característica de serem a única verdade, sendo as demais, quando tomadas como um todo, falsas.

Buda, por exemplo, atacou fortemente o Hinduísmo, criticando inclusive o sistema de castas, de maneira que o exclusivismo, conforme disse, não é uma peculiaridade do Cristianismo como muitos pensam, mas de todos os sistemas de pensamentos que se pretendem verdadeiros.

Até a ideologia ateísta é exclusivista, pois aceita apenas as explicações naturalistas do mundo. Elas dizem logo que qualquer outra que traga fundamento sobrenatural para o mundo é falsa, mesmo que as evidências apontem em contrário.

  • Conclusão

Em resumo, dizer que só o Cristianismo tem a única verdade não é falta de tolerância com o outro, mas sim apego à força da lógica. Intolerância seria não aceitar que o outro pensasse da forma que bem quisesse e professasse a religião que entendesse ser verdadeira (ou mesmo o ateísmo).

Todos devem ter o direito ao livre pensamento e à livre expressão desse pensamento, guardados, é claro, os limites da lei, já que a liberdade de um de expressar o seu pensamento não pode interferir na liberdade do outro de expressar o seu.

O que muitos não se atentam é para o fato de que, no quesito do respeito à liberdade de pensar o que quiser e de expressão do pensamento, o Cristianismo pode ser considerado como a mais tolerante das religiões do mundo.

Com efeito, o que mais diferencia o Cristianismo de outras visões de mundo é que o Cristianismo bíblico é por excelência tolerante. A Bíblia, neste particular, é tão tolerante que estabelece que nenhum homem está autorizado a tentar forçar outra pessoa a crer nos seus mandamentos, pois, segundo as próprias Escrituras, a conversão bíblica é obra do Espírito Santo no coração do homem.

Qualquer pessoa pode tornar-se cristã porque pode ser convencida de que aquela é a visão de mundo verdadeira e a Bíblia incentiva que a fé seja, inclusive, defensável racionalmente (1 Pe 3:15), tal como o faz com o estabelecimento da ressurreição de Cristo como fundamento de Cristianismo (1 Coríntios 15:14), já que este é um fato histórico como outro qualquer e pode ser investigado da mesma forma que se investigam passagens da vida de qualquer outro personagem da história.

Em resumo, o Cristianismo declara sim ser a única verdade e isso não tem nada a ver com a análise de se é ou não tolerante. A sua tolerância se verifica quando não propõe que ninguém seja forçado à conversão, ou que devemos respeitar o que os outros dizem e defender inclusive que eles devem ter o direito de pensar o que quiserem e expressar este pensamento. O cristianismo diferencia-se, contudo, das demais visões de mundo ao dar bases científicas para investigação da sua veracidade, o que o torna, além de exclusivista como as outras religiões, a única que não só está aberta, mas também incentiva que as pessoas examinem e investiguem as verdades que expõe.

Deus abençoe.

Obs: Tassos Lycurgo é presidente do Defesa da Fé Ministério (defesadafe.org) e do Faith.College, pastor da Igreja Defesa da Fé em Natal – RN, ordenado pelo RMAI (EUA), advogado (OAB/RN), professor da UFRN no Programa de Pós-graduação em Design, professor do RBT College (Guatemala), professor convidado do RBT College (EUA) e professor visitante da Oral Roberts University (EUA, 2012-2015). É Pós-Doutor em Apologética Cristã (ORU, EUA) e em Sociologia Jurídica (UFPB), PhD em Educação – Matemática/Lógica (UFRN), Mestre em Filosofia Analítica (Sussex University, Inglaterra), Especialista em Direito Material e Processual do Trabalho (UNIDERP), Graduado em Direito (URCA), Filosofia (UFRN), Liderança Avançada (Haggai Institute, Tailândia), Ministério Pastoral e Estudos Bíblicos (RBT College, EUA), tendo também estudado na Noruega. Publicou nove livros, sendo o último deles: “Job. Betrayed by God? Delivered to the Devil?”, cuja publicação para o português se deu pelo título “Jó. Traído por Deus? Entregue ao Diabo?”

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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