Por motivo do Primeiro de Maio, Dia do Trabalho, a Pastoral Operária escolheu esta afirmação com claras ressonâncias evangélicas, para expressar suas preocupações com a situação dos trabalhadores em tempos de crise mundial. “Nossa casa não é um mercado”
A frase faz lembrar a sentença de Cristo, justificando sua enérgica atitude de expulsar os vendilhões do templo. “Minha casa é um casa de oração, e vós fizestes dela um covil de ladrões!”.
Transposta esta cena para o nosso tempo, começamos a compreender melhor a realidade do trabalho humano. Ele é sagrado, como o era o templo do Senhor. Mas o trabalho passou a ser espoliado, roubado, por um sistema que se apropriou demasiado dos frutos do trabalho, concentrando as riquezas por ele produzidas nas mãos de poucos, que se enriqueceram, deixando os próprios trabalhadores numa “miséria imerecida”.
O mundo do trabalho está passando hoje por profundas transformações, que não é fácil entender. Mas uma coisa é certa e evidente: o trabalho não pode ser explorado como fator de concentração de riquezas nas mãos de poucos, ele não se reduz a uma “mercadoria” cujo preço se regula pelo mercado, nem se limita a um emprego, pelo qual o trabalhador passa a depender do empregador. Ao contrário, o trabalho nos confere dignidade, e por ele nos associamos à obra criadora de Deus, para garantir condições dignas de vida para todos, em espírito de solidariedade, e no respeito pela criação. Nela somos convidados a nos associar ao trabalho divino, como parceiros do Deus trabalhador.
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.