1 – Domingo da DIVINA SINCERIDADE
Lc 6,39-45
Um dia, uma presidenta do Brasil, em plena Assembleia da ONU, afirmou que os pro-blemas de uma tal crise econômica mundial não se resolviam, “não, por falta de dinhei-ro” mas por falta de visão e de vontade po-lítica daqueles que mais tinham condições.
E, assim como na condução dos altos negó-cios da humanidade, acontece igualmente na simples convivência cotidiana entre as pessoas: cega-se por conta de interesses mesquinhos e ambições egoístas, e ainda se pretende fazer aliados e convencer os de-mais dos próprios pontos de vista, com os “melhores” e mais capciosos argumentos.
Mas a hipocrisia, sobretudo dos “religio-sos”, apenas engana os que gostam de ser enganados, porque compartilham dos mes-mos interesses e ambições. Um coração vazio das “Bem-Aventuranças” do Reino, mas cheio das malícias do mundo, não tarda a fazer-se sentir. Basta abrir a boca, que logo, seu falar o denuncia. No mínimo, um tremendo “rabo de palha”, logo, o desquali-fica.
Jesus não estará nos convidando, hoje, a avaliar a honestidade de nossas celebra-ções e a verdade do nosso canto?… Estaríamos enganando a quem?…
Vejamos quanta “humanidade”, na “ajuda hu-manitária” que o governo dos Estados Unidos e seus capachos, os governos da Colômbia e do Brasil querem prestar ao Povo da Venezue-la!… Desde a vitória de Hugo Chaves nas elei-ções de 1998, e sua posse no ano seguinte, como Presidente da “República Bolivariana da Venezuela”, que o Império Norte-americano vem fazendo de tudo para impedir que o povo venezuelano se organize de maneira democrá-tica e se sinta dono do seu pedaço, desfrute das riquezas do seu território, e possa usar seu petróleo para melhorar as condições de vida de todo o povo – como LULA queria fazer com o Pré-Sal, aqui entre nós. A imprensa do Império e de seus lacaios ridicularizavam Chaves, do mesmo modo que o fazem agora com o Pres. Maduro. O que eles querem mes-mo é abocanhar a maior jazida de petróleo do mundo. E o povo da Venezuela que fique na miséria. Para enganar os bestas: “ajuda huma-nitária”! Será que a gente já entende melhor por que depuseram Dilma, prenderam Lula e agora querem fazer a “Ref. da Previdência”?…
CARNAVAL, BELEZA E SALVAÇÃO!
Quem acompanhou as reportagens sobre o Carnaval em Olinda e Recife, especialmente, o “Bom Dia Pernambuco” desta quinta-feira, 28/02, deve ter-se deslumbrado com tanta coisa bonita, se preparando ou já acontecendo, por todos os recantos desta Região Metropolitana: agremiações de Coco. Maracatu, Caboclinhos, Blocos de Frevo, Escolas de Samba… O Galo da Madrugada, o Homem da Meia Noite… A exuberância das cores, das músicas, dos ritmos, das danças… Como nunca, a Cultura Afro brilha e encanta os olhos dos de casa e dos que chegam de fora. É muita Arte, muita beleza, muita alegria, saudável e verdadeira, num cenário caprichado de ruas, praças e pontes ornamentadas a caráter, pra acolher os desfiles e alegorias, atingindo seu clímax quando soam e ecoam os frevos tradicionais, arrancando arrepios e fazendo a terra tremer. Excessos, abusos, onde não os há?… Se for por isso, nem as Religiões prestam. Por isso, é preferível lembrar o que escreveu Dostoievski: “A BELEZA SALVARÁ O MUNDO”. E Carnaval é sobretudo isso “BELEZA”! E, com certeza, tem tudo a ver com “SALVAÇÃO”! Por isso, vale a pena escutar a voz de um Pastor segundo o coração de Cristo:
“Carnaval é a alegria popular. Direi mesmo, uma das raras alegrias que ainda sobram para a minha gente querida. Peca-se muito no carnaval? Não sei o que pesa mais diante de Deus: se excessos, aqui e ali, cometidos por foliões, ou farisaísmo e falta de caridade por parte de quem se julga melhor e mais santo por não brincar o carnaval. Estive recordando sambas e frevos, do disco do Baile da Saudade: “Ô jardineira por que estás tão triste? Mas o que foi que te aconteceu?… Tu és muito mais bonita que a camélia que morreu”. Brinque, meu povo, povo querido! Minha gente queridíssima. É verdade que, quarta-feira, a luta recomeça. Mas, ao menos, se pôs um pouco de sonho na realidade dura da vida!”
Dom Helder Camara
2 – O Grito da Quaresma!
Mt 6,1-6.16-18
Jejuar… Dar esmola… Orar… Essas palavras têm ainda hoje alguma atualidade e atrativo?… Poderão ainda motivar alguém, sobretudo a juventude, para alguma iniciativa a respeito da própria vida, da vida da humanidade, da vida espiritual?…
Talvez seja apenas questão de entender o espírito da coisa e encontrar os termos de hoje para dizer coisas que continuam sendo importantes, e o serão sempre:
- Disciplinar-se na satisfação dos próprios instintos, no contexto dos apelos consumistas cada vez mais invasivos e insistentes, terá alguma coisa a ver com a saúde física, mental e ambiental, das pessoas e do planeta?… É disso que se trata, quando os antigos falam “jejuar”… O que importa é cada um encontrar o seu “método” de vida…
- Ser solidário com as pessoas e com o planeta, abraçando as grandes causas da justiça e do meio ambiente, sem esquecer as oportunidades do cotidiano, quando te batem à porta… Faz algum sentido?… É disso que se trata, quando os antigos falam “dar esmola”… E há tanto o que cuidar!
- Abrir-se para o Mistério, permitir essa sintonia fina com o Grande Outro, com “fome e sede da Justiça”, acolhendo “os sinais dos tempos” como apelos de Deus… É algo que tem a ver com você?… É disso que se trata quando os antigos falam em “oração”… Perda de tempo ou urgência profunda?…
A celebração desta Quarta-Feira de Cinzas, passados os dias da brincadeira e da descontração, vale como um “Grito”, um alerta. É um convite de JESUS a assumir essas três práticas tradicionais, como jeito sério e eficaz de caminhar para a Páscoa, no seguimento d’Ele, em demanda da Vida Nova e da Terra Prometida! Vamos lá?…
3 – O Batismo, a Missão e as Tentações
Lucas 4,1-13
Quando chegou à plena consciência da sua missão, Jesus se fez batizar pelas mãos de João, o Batista. Reconhecido pelo Pai como seu Filho querido, crismado pelo Espírito, sua primeira atitude é fazer um longo retiro no deserto, a fim de experimentar em toda a sua amplitude e profundidade os significados e as exigências do seu Batismo. Para tanto, nada melhor que um encontro, cara a cara, com aquele que, do início ao final da sua jornada, será seu grande inimigo e o maior desafio da sua existência terrena:
– Entender e assumir as oportunidades da vida como mero ensejo de resolver “meus problemas” ou “cuidar dos meus interes-ses”, sem me importar com nada e com ninguém mais, eis a primeira sugestão, a primeira cilada, a primeira tentação…
– Encarar o poder político como possibilida-de de ser “dono do mundo”, ter tudo nas mãos, e realizar seu projeto de vida, ambi-cioso, individualista e egoísta, eis a segunda…
– Colocar Deus a serviço das próprias vaidades, fazer da religião ‘”status”, questão de prestígio, posição, jogo de influência e trama para a dominação das consciências, eis a terceira, a mais sofisti-cada, insidiosa e perniciosa…
Começar a Quaresma colocando-se diante desta cena e, como batizado, inserir-se nesse contexto, sabendo que o seu desfe-cho é a Sexta-feira da Paixão…
Saber que não existirá Ressurreição para quem não souber enfrentar, à luz da Palavra de Deus e na força do Espírito, estas tentações, que, de muitas maneiras ocorrem no dia-a-dia de cada um/uma…
Dispor-se a cair em campo e arregaçar as mangas, pela prática da oração sincera, do jejum verdadeiro e da solidariedade lúcida e generosa… Eis o que se espera da gente!
E a Campanha da Fraternidade vai nos ajudar a sermos bem concretos: FRATERNIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS!
<<FRATERNIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS>> – CF 2019
Faz bem começar mais uma QUARESMA ouvindo a Bem-Aventurança de Jesus; “Felizes as pessoas que têm fome e sede da Justiça, porque serão saciadas!” (Mt 5,6). Jesus garante a “felicidade” a quem quer ver a vida da Humanidade, começando pela vida de cada pessoa, ajustada com a vontade de Papai do Céu. É isso o que a gente lhe pede quando, orando como Jesus nos ensinou, dizemos “Seja feita a vossa vontade, assim na terra como no céu”.
Se prestarmos bem atenção ao que de mais importante Jesus nos propõe como programa de vida nos quatro Evangelhos, vamos perceber claramente que nossa relação de amor para com Deus, o Pai-Mãe da Humanidade, depende essencialmente do nosso relacionamento com as pessoas de que estamos próximos ou precisamos nos aproximar. Uma convivência feita de cuidado, serviço mútuo, amor entre irmãos e irmãs… No Juízo Final, esse vai ser o único critério pelo qual seremos todos julgados e julgadas (cf. Marcos 12,28-34; João 13,1-17; 15,9-17; Mateus 25,31-46), Essa é, aliás, já em nossa existência terrena, a realização da “vida eterna” (cf Lucas 10,25-37).
Você se reconhece “Cidadão”, “Cidadã”, isto é, responsável pela sua cidade?… Você se preocupa com o Bem Comum, o bem de todas as pessoas de todos os segmentos sociais, que com você compartilham o mesmo espaço, o mesmo território?… Você se sente solidário com as pessoas que mais precisam?… Nas palavras e gestos de Jesus você encontrará um motivo a mais para viver plenamente a sua “Cidadania”.
Ao longo destes quarenta dias de graça e transformação, tendo como referência Aquele que deu a vida pela causa da VIDA, priorizando os que mais precisam, oprimidos, os marginalizados, os excluídos, as vítimas todas de um sistema de exploração e exclusão, você vai escutá-lo dizer:
– “Eu estava com fome, e vocês me deram de comer”;
– Eu estava com sede, e me deram de beber”;
– Eu era estrangeiro, e me receberam em sua casa;”
– Eu estava sem roupa, e me vestiram”;
– Eu estava doente, e cuidaram de mim”;
– Eu estava na prisão, e vocês foram me visitar”.
Você já deve ter ouvido falar das “Obras de Misericórdia”… Pense grande, amplie seu olhar, seu coração, o alcance de suas mãos. Junte-se aos amigos e amigas, colegas, companheiros e companheiras. Formem RODAS DE FÉ E CIDADANIA, nas quais vocês possam conversar os problemas de sua vizinhança, com um olhar caprichado para quem mais precisa: Gente desempregada, passando fome… Gente com problemas de água, de saneamento básico (além da água tratada, esgoto sanitário tratado – coleta de lixo)… Gente com problema de moradia, de falta de equipamentos comunitários básicos (escola, posto de saúde, áreas de lazer e cultura)… Gente passando frio e nudez, o povo da rua… Gente sem atendimento adequado de saúde pelo SUS… Gente metida no cárcere, sem as mínimas condições de dignidade e ressocialização, ou então, sem a assistência judiciária devida, apodrecendo nas prisões …
Em nome de sua Fé, ”em nome de Jesus”, façam valer tanta coisa que a Constituição Cidadã de 1988 e tantas Leis federais, estaduais e municipais já determinam para serem cumpridas… Lutem coletivamente pelos seus direitos, para que todos e todas possamos viver em condições de dignidade, de bem estar coletivo, de sossego, com justiça e paz.
É disso que se trata, quando a Campanha nos convoca com os dizeres “FRATERNIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS”… E nos lembra as palavras do Profeta, já no Primeiro Testamento: “Serás libertado pelo Direito e pela Justiça” (Isaías 1,27). É assim que vocês vão “fazer a Páscoa”, este ano, permitindo que Deus passe em suas vidas, fazendo-os passar da morte do egoísmo e do comodismo para vida nova do Amor e da Solidariedade, em Cristo Jesus, que morreu e ressuscitou. E serão “felizes!”
Reginaldo Veloso, presbítero leigo das CEBs
4 – Subindo a montanha e descendo à planície, a TRANSFIGURAÇÃO!
Lucas 9,28-36
Aconteceu no alto da montanha… Aconte-ceu a caminho de Jerusalém… Aconteceu depois da profissão de fé de Simão Pedro e do primeiro anúncio da Paixão… Aconteceu num momento de oração: recordando Moi-sés e Elias, a Lei e os Profetas, questionan-do-se, diante do Pai, sobre o que o espera-va pela frente, Jesus toma plena consciên-cia da sua missão, do seu destino e do desfecho de tudo isso. Somente “pela CRUZ, se chega à LUZ!”.
E seu rosto se iluminou e resplandeceu.
Mais uma vez, diante da entrega confiante do Filho, o Pai não consegue ficar calado: “Este é o meu Filho, o Eleito. Escutai-o!”
Pelo gosto dos três discípulos que o acom-panhavam, eles ficariam por aí. De repente, tudo volta ao normal: o brilho da face de Jesus se apagou e, agora, importava descer à planície do cotidiano e encarar o que estava por acontecer em Jerusalém…
A Quaresma chega, assim, à sua segunda semana. O convite à oração, com Jesus, é evidente, contanto que seja para a gente se colocar no contexto das realidades que nos desafiam (VER), iluminados pelos Profetas e Evangelistas (JULGAR), e nos dispormos a seguir Jesus, num caminho sem volta, que é o do “dar a vida” para que haja “vida em plenitude!” (AGIR).
A Campanha da Fraternidade e tudo mais que se almeje concretizar em termos de atitudes e iniciativas, individuais e coletivas, só terá consistência, se brotar dessa experiência espiritual fundamental de seguimento de Jesus, subindo a montanha para orar, e descendo à planície para lutar. É assim que iremos fazer do cotidiano o espaço e a oportunidade de ver a Páscoa acontecer, e o Reino de Deus se realizar “assim na terra como no céu”…
Orando com JESUS, vamos encarar os problemas da Classe Trabalhadora, as necessidades de nossos bairros, e lutar em nome d’Ele, por POLÍTICAS PÚBLI-CAS, para que a PÁSCOA aconteça, aqui e agora, em nossas vidas.
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)