Alguém muito especial pegou uma borracha e devagar, com carinho, foi apagando as cores cinza e desbotadas que cobriam a paisagem de minha vida. Dai a pouco, começou a surgir no meu horizonte desfigurado, cores luminosas, brilhantes, fortes, voláteis, que iam do azul anil ao verde forte, do vermelho ao amarelo ouro, do marrom para o lilás. Era tanta a profusão de cores, que embaçou meu coração desacostumado a tanta beleza.
Difícil descrever, impossível esquecer, porque tudo fazia esquecer o cinzento que emparedou meu viver.
O mata-borrão passava e deixava uma trilha de alegria, de vibração, de viver uma nova era. Parecia com a chuva que limpava a aridez da seca e diminuía a tepidez do sol. O colorido da natureza deixava-me ufano de felicidade, pela grandeza mostrada, o que me deixava sentir, que era possível recomeçar, apagar tristeza e sofrimento e passar para uma nova página da vida, com um passado decodificado, removendo paisagens subordinadas a temperaturas inóspitas e incertas.
Com essa nova página, renovei-me feito os pássaros, que cantam e adquirem nova plumagem, que contagiam todos com seu voar, que pulam de árvore em árvore, sem se cansar.
Também poderia me comparar à borboleta amarela, que só aparece com as chuvas e que pela profusão de alegria e beleza que mostra, só merece ser respeitada e admirada.
Assim, sou eu, borboleta amarela, difícil de ser encontrada, pássaro cantante, felicidade constante, vida em ebulição.