Padre Beto 15 de março de 2019

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Considerado por muitos como a maior obra do mestre Akira Kurosawa, “Ikiru” (Viver) apresenta a visão da compaixão, mostrando a beleza da vida de um homem a partir da explosão de sua morte. Kanji Watanabe é um idoso burocrata com câncer no estômago forçado a buscar o significado de sua existência nos seus dias finais. Narrado em duas partes, “Ikiru” mostra os questionamentos de Watanabe no presente, através de uma série de retrospectivas de sua vida. O resultado é uma lição para aqueles que desejam verdadeiramente. viver.
Uma das características centrais da pregação de Jesus é ser um protesto contra o legalismo dos fariseus. Este mesmo legalismo nós encontramos hoje, não somente na igreja católica como também nas igrejas evangélicas. As pessoas procuram cumprir normas e preceitos religiosos com o objetivo de conseguir as graças de Deus. Este método, na verdade, pode até ser válido para drogados e viciados, mas não condizem com o sentido da religião. Se reduzimos a religião ao cumprimento de regras temos duas consequências graves. A primeira adotamos uma quantidade de preceitos como exigência do bem e deixamos de pensar. Os preceitos acabam nos cegando e nos levando a não ver mais o que está além deles. Eles funcionam como um cabresto e nos retiram aos poucos o dom mais profundo que a nossa espécie humana possui: o dom da inteligência. Em segundo lugar, ao seguirmos preceitos para alcançar a graça de Deus adquirimos uma ética corrompida, pois realizamos os preceitos para alcançar alguma outra coisa. Nós não fazemos o bem porque isso é bom ou correto, mas fazemos o bem com uma outra intenção (alcançar a graça de Deus, qualidade de vida, a vida eterna, por medo de sermos condenados). Desta forma, agimos como hipócritas e deixamos de ser transparentes.
O protesto do Cristo exige justamente o contrário: uma autêntica decisão por Deus, uma decisão radical de fazer o bem. Esta decisão, em primeiro lugar, deve ser autêntica, transparente. Por isso a critica tão forte aos fariseus: “As prostitutas os precederão no reino dos céus”. Com esta crítica, Jesus não está falando sobre a conversão das prostitutas e muito menos defendendo a prostituição, mas alertando de que uma prostituta é mais transparente do que muitas “carolas” que apesar de cumprirem preceitos religiosos não se esforçam sinceramente em fazer o bem. Perante Deus não é o que eu faço o importante, mas “como” eu faço. Qual a intenção atrás do bem que realizo? A vontade do meu ser deve ser o início do meu fazer. O cristão deve desejar fazer o bem pelo simples fato de que este deve acontecer e não por esperar uma recompensa. No como fazer se revela a pessoa humana e o filho de Deus. Porém, o  o mal reside em não fazer nada só porque não existe um preceito que me obrigue é fazer. Para Jesus não existe neutralidade na vida. Diante de cada circunstância somos chamados a nos posicionar concretamente. Por isso, diante da multidão que os seguia Jesus põe à prova Filipe: como dar-lhes de comer? (João 6, 1-15). Existe sim o preceito religioso de dar esmolas, mas dar de comer à multidão vai além do preceito religioso. O preceito de dar esmolas gera filantropia, alivia a consciência de quem cumpre o preceito e mantém o sistema de pobreza. O milagre da multiplicação dos pães é uma atitude revolucionária, pois ensina a todos a necessidade da partilha. Jesus não era ingênuo e sabia que nenhum homem sai para caminhar no deserto sem levar algo para comer. O que Jesus faz ao partir o pão é dar o exemplo a todos de um lanche comunitário, no qual todos partilham do pouco que possuem e o pouco se torna muito e até sobra. Jesus ensina que, diante de cada situação à nossa frente, somos responsáveis. Responsabilidade, porém, vem da palavra “resposta”, ou seja, diante de cada situação somos chamados a dar uma resposta, uma solução. Esta decisão sincera que independe de seguir preceitos religiosos é que nos faz transcender e transcender a vida ao nosso redor.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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