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Você já reparou que a nossa existência equilibra-se sempre entre as possibilidades e as frustrações diárias? Não, então imagine a história de um menino pobre, de periferia, possuidor de grande talento com a “redondinha” e que tem como sonho tornar-se um astro do futebol nacional. Todo dia ele parte para a pelada entre os seus, mas com um diferencial: enquanto a maioria vai ali apenas para brincar, ele, dentro do seu íntimo, diariamente mentaliza que amanhã o seu sonho se tornará realidade.
Ou um jovem também de classe baixa que, fã de livros e afins, e já conhecido da vizinhança como “o poeta”, que alimenta diariamente o seu sonho: tornar-se reconhecido nas letras do seu país.
Ambos os exemplos dão mostras do que cada um de nós carrega dentro de si por essa vida afora. São possibilidades e mais possibilidades permeadas por frustrações também diárias. Mortes e renascimentos constantes que tentam apontar-nos o rumo. E este, não esqueça, passa sempre pelo semear.
É claro que a maioria não se suporta e apronta todas para antecipar seu lugar ao sol. Uns detonam a si mesmos, outros, a si e aos que os rodeiam, e somente uns poucos conseguem persistir na preparação (semeadura) e na espera da tão sonhada oportunidade (colheita).
Talvez seja este o grande dilema do ser humano: ter de conviver entre o saber da existência das possibilidades e o vir a descobrir essas possibilidades, sem se deixar cair pelas frustrações diárias.
Isso faz-me lembrar daquela história da tradição do padrão arquetípico que aponta três estágios no desenvolvimento psicológico do Homem, e que diz que passamos da perfeição inconsciente da infância para a imperfeição consciente da meia-idade e, por último, para a perfeição consciente da velhice.
Numa época em que tanto se busca o equilíbrio interior em meio ao caos da nossa civilização – apressada e sufocada por máquinas e tecnologias – penso que o importante é que sejamos, nem otimistas, nem pessimistas, mas possibilistas, como disse o pedagogo russo-americano Max Lerner. A fim de que possamos “tirar de letra” essas também constantes e necessárias frustrações, porque se encaradas como aprendizado, fazem-nos crescer.
Obs: Texto retirado do livro do autor – Surtos & Sustos
Imagem enviada pelo autor (httpwww.alejandrosuarez.com.br)