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N. Sri Ram, o grande filósofo do século passado, possui um conceito sobre a memória que, às vezes, se torna um tanto difícil de explicar, tendo em vista nossos valores atuais. Um dia desses, ao preparar um suco de laranja, pensava sobre isso. Extrai-se o sumo de diversas laranjas, e a quantidade de cascas e bagaço é bem grande. Imaginei a seguinte situação: que o consumo deste suco fizesse bem à vista, e que, ao consumi-lo e ver melhor o mundo à minha volta, me sentisse grata àquelas cascas e bagaços, e quisesse levá-los comigo… Num dado momento, o fardo de arrastá-los seria tão grande que chegaria a neutralizar ou superar os benefícios da amplitude de visão trazido por este sumo…

Assim ocorre com a memória dos fatos: seu “sumo”, o aprendizado,apura nossa visão interna, gerando sabedoria, capacidade de resposta humana à vida; isso, essa parcela válida do passado, integra o que sou agora, no presente, sem ter de recorrer ao contexto do qual a extraí. Não necessito de nenhum tempo, senão deste tempo, em que estou de corpo e alma, e no qual o passado está incorporado e sintetizado naquilo que sou. Arrastar um fardo de cascas secas pode se tornar tão pesado que nos impeça de caminhar… e exija o “corte” misericordioso… a morte física.

Uma outra situação é não extraírmos o sumo das laranjas dadas pela vida, nada extraírmos delas, e só termos o peso, que, neste caso, acrescido ao do sumo não usado, será ainda maior. Assim, o passado é só fardo, e a caminhada se faz, toda ela, com a mesma vista turva dos passos iniciais. Neste caso, não há passado nem presente pleno: há caos primordial, potências não exploradas, aguardando o nascimento de Cronos… Sobrevivência, e não vida.

Assim, ao espremer minhas laranjas, senti-me grata por ser uma filósofa, livre de fardos, sempre vendo um pouquinho melhor… Grata ao “pomar” da vida, por tantas oportunidades dadas, por me alimentar delas… e por viver em um presente cada vez mais significativo e pleno.

Obs: A autora é professora de Filosofia da Nova Acrópole há 30 anos (www.acropole.org.br – www.acropolis.org), autora de quatro livros de poemas e crônicas, com cerca de 200 palestras no Canal da Nova Acrópole no Youtube, com 126.000 seguidores, dona blogsluciahga.blogspot.com.br e observacoesmatinais.blogspot.com.br e da página do , facebook Lucia Helena Galvão – Poesia Filosófica, com 91.000 curtidas, já realizou palestras no Brasil e no exterior e participou de inúmeros programas de entrevistas, podcasts etc.

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Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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