VILLY FOMIN 1 de fevereiro de 2019

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Em abril de 2014 embarquei em um desafio: correr os 100km do Deserto do Saara, na verdade foram 104km divididos em três dias. Ficamos (meu sogro e eu) cinco dias no deserto, cinquenta graus na telha de dia e dez graus de noite.

Dormimos em barracas precárias. O vento não para, dia e noite ele chama a areia pra dançar, juntos eles fazem os mais variados desenhos. O deserto parece um monstro se mexendo lentamente.

No segundo dia a prova era de 30km, esse foi o dia mais quente, corremos com 52 graus, o vento quente deixava tudo mais complicado. Foi a primeira vez que pensei em desistir. Já havia corrido outras 11 maratonas (42Km) todas foram difíceis mas jamais tinha pensado em desistir. No Saara, desistir parecia ser a decisão mais sensata. Não desisti por uma razão: sabia que se desistisse um dia eu teria que voltar lá para cumprir a prova, concluí que era melhor continuar e evitar toda aquela viagem novamente!

O deserto não perdoa, não tem alívio. Não vi nenhuma árvore, apenas arbustos com 50 centímetros de altura, ou seja, sombra que é bom…

No último dia foram 42km de deserto com direito a tempestade de areia. A chegada foi em uma pequena cidade no litoral da Tunísia. Medalha no peito, dor em todos os cantos do corpo e uma alegria indescritível no coração.

Maratonas são metáforas da vida, o deserto também. Pois estamos todos correndo, cada um na sua prova, com suas metas pessoais, com sua velocidade e percurso. Aliás creio que isso é fundamental: corra sua prova, no seu ritmo, não se encante com o ritmo do vizinho, você não sabe como é a prova dele, nem suas metas e possibilidades.

Viva com os outros mas não viva a vida dos outros, encontre seu ritmo e siga.

Deserto é um lugar de esvaziamento, um espaço com poucos recursos externos o que nos possibilita (ou obriga) conhecer e gerar novos recursos internos. A mesmice da paisagem de fora nos convida a olhar para dentro e ver algo diferente.

O deserto é um lugar de reavaliação de prioridades e valores. Um copo de água ganha status de jóia rara!

O deserto pode ser um tempo de encontro, você com seu coração, você com Deus, você com algo que acredita, pode ser um tempo de transcendência, rompimentos, superação e autoconhecimento.

O percurso é longo, algumas partes são desanimadoras, mas vale a pena continuar. Em algumas das maratonas que corri haviam pessoas segurando uma placa: A dor é passageira, a alegria da chegada é eterna.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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