Olhando a história, podemos perceber melhor a fecunda relação que pode acontecer entre a Igreja e a Sociedade.
Nos primeiros trezentos anos de sua existência, a Igreja foi muito hostilizada pelo Império Romano, especialmente na Europa.
Depois dos tempos de perseguição, veio um longo período de colaboração sistemática entre a Igreja e a Sociedade, quando desmoronou o Império Romano no Ocidente, e a Igreja se viu na necessidade de ajudar os povos, sobretudo da Europa Ocidental, a organizarem sua estrutura social.
Foi um longo tempo, de pacífica convivência e entrosamento entre Igreja e Estado, ao longo de todo o período que é historicamente identificado como o tempo da cristandade, ou também o tempo da civilização cristã.
Esta pacífica convivência entre Igreja e Estado, que durou séculos, foi posta à prova, e colocada em crise, a partir do século 16 em diante, tendo como referência fácil de guardar, as proximidades do ano 1500.
Foi então que a própria cristandade européia se dividiu, com as reformas desencadeadas a partir de Lutero, aí pelo ano de 1517.
Perdida a unidade eclesial, foi se tornando cada vez mais difícil o relacionamento entre Igreja e Sociedade, no início da era histórica que levou o nome de “modernidade”.
Foi assim que aos poucos a sociedade européia foi se reorganizando sem depender da Igreja. Em todo o caso, parecia que não haveria mais lugar para a Igreja na sociedade marcada pela modernidade. Nos primeiros tempos deste novo período da história, no esforço de afirmar a mútua autonomia, entre a estrutura da Igreja e a estrutura da sociedade, se levou a pensar que a autonomia significasse o desconhecimento da Igreja, cuja presença seria incômoda na sociedade.
Mas não demorou muito para a sociedade européia sentir falta da Igreja. Sobretudo as conseqüências da revolução industrial desencadearam tantos problemas, que foi necessário acatar as sábias orientações do Papa Leão 13 sobre a “questão social”, com sua famosa encíclica “Rerum Novarum”. A partir deste documento, publicado no ano de 1891, foi se sistematizando a assim chamada “doutrina social da Igreja” com suas orientações a propósito dos muitos aspectos da sociedade.
Assim aos poucos vai se recompondo um relacionamento salutar entre Igreja e Sociedade, cada qual com seu espaço próprio de organização, no reconhecimento da mútua autonomia.
As próprias “campanhas da fraternidade” são um exemplo concreto da colaboração que pode existir entre Igreja e Sociedade, quando se superam os preconceitos e se restabelece um diálogo construtivo entre as esferas da Igreja e da Sociedade.
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.