1 – DOMINGO DA GRANDE ESPERA
Marcos 13,24-32
Há uma Bem-Aventurança de Jesus que talvez seja a mais evocada: “Felizes os que têm fome e sede da justiça, porque deles é o Reino dos Céus!”.
Merece atenção o artigo “a” que precede e determina o substantivo “justiça”. A fome e sede não são de qualquer justiça. São de uma justiça determinada, aquela que transcende a de todos os tribunais e juízes deste mundo. Aquela, cuja sede, está no profundo do coração dos pobres, dos últimos, dos excluídos da terra, dos que só têm Deus por eles. Quando será que a justiça de Deus se fará sobre a face da terra?…
É disso que se trata quando se fala de “fim do mundo” ou da “Vinda final do Filho do Homem”. A destruição do Templo de Jerusalém, por volta dos anos 70 d.C.; o fim do Império Romano, no final do século V; mais perto de nós, as duas grandes guerras mundiais; finalmente, toda a onda de violência que vem tomando conta do mundo, juntamente com as grandes catástrofes provocadas pelos fenômenos da Natureza… Tudo isso e cada coisa a seu tempo, tem levado o povo a pressagiar o “fim do mundo”.
E os mundos passam, mas a História continua, assim como permanece aceso o sonho da Justiça. Quando será esse Dia?… É um segredo do Pai.
Aos filhos e filhas, cabe esperar, empenhando-se para que esse Dia não tarde demais e os pobres não percam a esperança.
Será feliz quem, atento aos “sinais dos tempos”, fizer sua parte, aqui e agora, e souber entoar o canto da esperança que “não decepciona” (Rm 5,5).
E como tudo isso tem tudo a ver com esse tempo de CRISE do país e do mundo!
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Nosso ofertório, hoje, é nossa fome e sede da Justiça… e, em JESUS, a sinceridade do nosso empenho em realizá-la em nossa vida pessoal e, através da nossa militância, no meio em que vivemos… Colocar a vida a serviço do Reino da Justiça, da Irmandade, do Amor no meio de um país dividido pelo preconceito e pelo ódio, pela mentira e pela enganação, eis o nosso ofertório, em comunhão com Jesus.
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Estamos chegando à reta final do Ano Litúrgico… É tempo de dar balanço em nossas vidas, antes de começarmos uma nova etapa… Vem aí o NATAL e o ANO NOVO!… Para além das ilusões do consumismo, teremos um sonho maior, capaz de dar a estes eventos e à nossa própria vida, um sentido maior?… Como nunca, o REINO DE DEUS nos desafia e convoca!
2 – Festa de CRISTO, REI: Fé e Resistência, em dias da Consciência Negra
João 18,33b-37
A programação anual das celebrações do Ofício Divino (Liturgia das Horas) e da Ceia do Senhor (Eucaristia) é uma verdadeira escola de espiritualidade, da mais genuína espiritualidade da comunidade eclesial, a espiritualidade da Igreja. Ela nos coloca à escuta cotidiana do Mestre, que hoje se nos apresenta como Rei, justamente assim: “Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz”.
Sendo esta a nossa caminhada, mais um ano litúrgico terá valido a pena, se tiver sido, o tempo todo, um tempo de escuta da Palavra de Jesus, com aquela certeza maior: “Se alguém me ama, guardará a minha palavra; meu Pai o amará, e nós viremos e faremos nele a nossa morada” (Jo 14,23). É desse jeito que Cristo é nosso Rei, que o Reino de Deus vem a nós “assim na terra como no céu”. E na medida em que a sua verdade e a sua presença se aprofundam em nós, e a nossa prática cotidiana, onde quer que nos encontremos, traduza, em gestos e atitudes, esta mesma verdade, nós seremos outras tantas testemunhas da verdade. O Reino de Cristo, então, irá se estabelecendo nas pessoas e ambientes por nós influenciados.
E assim, nosso canto de ação de graças, hoje, tem sabor de culminância e de plenitude, mesmo que seja provisória, “até que Ele venha”.
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Celebrar esta festa de conclusão do Ano Litúrgico, quando, em todo o país, se celebra a “Consciência Negra”, a memória de Zumbi dos Palmares e a luta heroica de todos os Quilombos de ontem e de hoje, por dignidade, liberdade e vida em plenitude
para o povo que veio de África em condições de escravidão e ainda hoje amarga preconceitos, discriminações e condições infames de desigualdade…
tudo isso só vem encarecer ainda mais junto à comunidade cristã o compromisso sempre mais exigente com a realização plena desse Reino da Verdade que liberta e vivifica.
Graças a Deus, a partir da Constituição de 1988, e, sobretudo, em tempos de governos identificados com os segmentos tradicionalmente marginalizados, foi possível observar avanços significativos, em termos de políticas públicas de inclusão.
Mas ainda havia muito mais por se conquistar.
Agora, que estamos em tempos de “exílio”, ameaçados pela recrudescimento dos preconceitos e por um governo que nos acena com mão de ferro, mais do que nunca, precisamos que nosso Rei hoje nos venha fortalecer a esperança e a capacidade de resistir a tudo quanto possa impedir que o seu Reino de Liberdade, de Justiça e de Paz possa se realizar.
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Por fim, as Comunidades Eclesiais de Base, ao se reunirem em nome desse Rei da Verdade, sentem-se mais fortalecidas no compromisso de fazer valer sua dupla Cidadania:
– na Igreja, em busca de uma Igreja, efetivamente, POVO DE DEUS,
onde se supere todo clericalismo, todo espírito de dominação,
onde todo cristão, toda cristã viva plenamente seu sacerdócio, seu profetismo, sua tarefa pastoral…
– e na Sociedade, em busca de um País, onde cesse toda opressão e exclusão,
onde acabe toda desigualdade, e aconteça a plena participação
para que todos e todas “tenham vida e vida em plenitude” (Jo 10,10).
3 – VIGIAI!
Lc 21,25-28.34-36
A expectativa da VINDA do SENHOR…
Quando um ano vai terminando e outro está por chegar, sonhos, aspirações e desejos começam a borbulhar no coração de toda a gente…
É a expectativa de um ANO NOVO, o anseio de uma VIDA NOVA, de um MUNDO NOVO, que nós cristãos chamamos de REINO DE DEUS!
É como se, de repente, tudo pudesse começar de novo, e muito melhor… Sonhos, aspirações, desejos, os mais variados, segundo os diversos níveis de necessidade e de consciência de cada pessoa, de cada grupo humano… É, precisamente, no contexto destes sonhos, aspirações e desejos, é no seio desta espera maior, que importa situar, compreender e vivenciar a expectativa da Vinda do Senhor: “Felizes os que têm fome e sede da Justiça, porque serão saciados!” E não há melhor maneira de ir ao encontro de um novo ano, que “caminhando e cantando”, no brilho da Estrela… O Rei está por chegar, o Príncipe da Paz! Antes de mais nada, VIGIAR! Não podemos dormir no ponto. É certo que ele virá um dia na sua glória e majestade, para julgar a cada um e a todos e todas, conforme as suas obras, isto é, conforme sua maneira de ter convivido com os demais, sobretudo, sobretudo conforme sua atenção ou seu descaso para com os mais precisados. Por isso mesmo, é preciso estar atento a cada momento, a cada pessoa que cruza o nosso caminho, aos acontecimentos que marcam nosso dia-a-dia. São sinais de Deus para quem tem olhos de ver… São como estrelas para quem observa os tempos, como os Magos… Preparar-se para a sua Vinda final é coisa de todo dia, de cada instante… Ele está sempre chegando… E vai se dar bem no final, quem soube acolhê-lo no dia-a-dia.
O desafio que se coloca para nós é precisamente este: como abrir espaços para o Senhor que vem nessa conjuntura que vive nosso país, a começar pelo lugar onde estamos?…
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NATAL vem aí! Preparemo-nos para comemorar sua primeira Vinda, como quem se prepara para a sua Vinda final!
Obs: Reginaldo Veloso de Araújo é Presbítero das Comunidades Eclesiais de Base – CEBs, no Morro da Conceição e Adjacências, Recife-PE.
Compositor litúrgico, com diversos CDs gravados pela COMEP/Paulinas e pela PAULUS
Assistente adjunto do Movimento de Trabalhadores Cristãos – MTC-NE2
Assessor pedagógico do Movimento de Adolescente e crianças – MAC e do PROAC
Membro da Equipe de Reflexão sobre Música Litúrgica do Setor de Liturgia da CNBB
Mestrado em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana – PUG (Roma, 1962)
Mestrado em História da Igreja, pela PUG (Roma, 1965)