Parece incômodo. Nem terminou o processo eleitoral, e já se pensa no que vai vir depois. Mas, queiramos ou não, desta vez o desafio maior não são as eleições. Serão as decisões a serem tomadas depois, de maneira inadiável.
Acompanhar estas decisões, e participar de sua elaboração e implementação, será a incumbência que nos caberá, como cidadãos convocados a assumir suas responsabilidades políticas.
Aí se coloca um claro desafio. Deu para constatar, com suficiente clareza, o grande desinteresse dos eleitores em debater as propostas em jogo no processo eleitoral. Em decorrência, pode-se logo vislumbrar um desinteresse maior ainda em acompanhar as decisões que o país está esperando há tempo.
Existe pouco apetite pela política. Isto é grave. Sabemos que a falta de apetite, para o organismo, pode ser sintoma de doença que vai se agravar.
O Brasil já não suporta mais o adiamento de algumas reformas, que são indispensáveis.
A começar pela Reforma Política, com a difícil tarefa de extirpar da legislação os mecanismos que vão agravando a “injustiça institucionalizada”, que vai produzindo sempre maiores diferenças entre os poucos privilegiados, e a grande maioria dos que pagam as consequências de um sistema injusto que foi integrado em nossa legislação, e que é urgente extirpar. Vejam-se, por exemplo, os mecanismos de ajustes salariais de algumas categorias de servidores públicos, que vão aumentando sempre mais as diferenças.
Sem o respaldo da cidadania, o Congresso Nacional não terá condições de enfrentar as resistências dos que vão se sentir ameaçados de perder seus privilégios.
Outra reforma que não pode mais ser adiada, é a Reforma da Previdência. Por tocar mais de perto a vida de milhões de pessoas, ela é vista com apreensão pormuita gente. Será necessário muito discernimento, e coragem política para efetivá-la.
Mas a Reforma da Previdência vem estreitamente vinculada com a Reforma Tributária. É preciso garantir os recursos para as aposentadorias, mas é preciso também equilibrar as contas do governo.
E assim, outros problemas deverão ser enfrentados, se queremos que o Brasil não inviabilize o seu futuro.
Tanto mais será necessária a participação da cidadania. Se houver impasses, que sejam usados os instrumentos de consulta popular previstos na Constituição, como o plebiscito e o referendo.
O certo é que se não houver a participação direta da cidadania, continuará se agravando o vácuo entre a cidadania e o Estado Brasileiro.
Por isto, terminadas as eleições, continuam as preocupações! 04.10.2018
Obs: O autor é Bispo Emérito de Jales.