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Se queremos destruir preconceitos, a atitude básica é enxergar a verdade.

A mulher é discriminada e inferiorizada em vários espaços sociais. A televisão não pode ser absolvida desse pecado.

A TV fabrica um estereótipo de mulher, que tem de ser seguido. As telenovelas estabelecem um padrão do feminino. Quem se rebela a esse padrão é discriminado e excluído. A mulher negra, por exemplo, tem pouco espaço no mundo das novelas, um mundo só na aparência inocente. Essa presença é sempre estabelecida no sentido de inferiorizar a mulher. Ou é empregada doméstica, ou vende comida ambulante, sempre a latere de qualquer valor. Nunca exerce um papel social relevante. Quando se exalta sua sexualidade, nunca se vê o direito ao exercício livre dessa sexualidade, mas é apenas mulher objeto, a mulata gostosa que existe para servir ao apetite masculino, ao senhor de engenho, ao proprietário, ao dono do corpo e da alma. Expressões machistas correm à larga no quadradinho colorido, hipnotizador.

Reconheço que há reações a esse modelo. Novelistas conscientes opõem-se a esse ignóbil projeto. Atores e atrizes recusam papéis que afrontam a própria consciência e pagam um alto preço por sua fidelidade ao que consideram justo e digno. Só a História, que é implacável, revelará a verdade e desmascará a mentira. A História não reconhece o poderio dos grandes meios de comunicação.

Não cabe apenas às mulheres defender a própria dignidade. A dignidade feminina não é uma causa feminina. Homens e mulheres devem estar comprometidos com a dignificação das mulheres e dos homens, ou seja, com a dignificação do ser humano.

Nosso antigo Código Civil dizia: “todo homem é capaz de direitos e obrigações na ordem civil”. Esse Código vigorou por quase todo o século passado.

O atual Código Civil estabelece que “toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil”. (Artigo 1º)

O novo Código foi mais feliz na redação do preceito.

Quando se usa a expressão “todo homem” abrange-se, sem dúvida, homens e mulheres. Mas não deixa de haver uma certa impropriedade nesse uso porque a expressão privilegia o gênero masculino para abarcar os gêneros feminino e masculino. É mais correto que se fale “toda pessoa” ou “todo ser humano” para compreender homens e mulheres.

Examinar a História, olhar para o passado não é um passatempo, uma brincadeira. Só se constrói o futuro a partir das lições do passado. Ainda estamos longe de poder celebrar no Brasil a igualdade de homens e mulheres. Há muito chão a percorrer, preconceitos abertos e sutis a desatar. Não podemos perder o rumo. Cumpre avançar com coragem e altivez. Doa a quem doer os reparos que façamos.

Obs: O autor é magistrado aposentado (ES), escritor, professor, palestrante.
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