Enquanto no Sul continua a seca, no Norte acontecem agora as enchentes. Em seu território, o Brasil abriga estes contrastes, que aumentam as apreensões sobre as conseqüências do desequilíbrio ambiental.

De maneira especial, a Amazônia está no centro das atenções de todo o mundo. Na recente assembléia da CNBB, o assunto que mais ficou em aberto, e que mais deixou apreensões, foi a Amazônia. Precisamos percebê-la em seus diferentes ângulos.

Por sua própria configuração geográfica, a Amazônia é imensa. Pela exuberância de sua natureza, a Amazônia é fascinante. Pela riqueza de seu solo, de suas águas, de suas matas, de sua biodiversidade, a Amazônia é cobiçada. Por sua importância ecológica, pela influência que exerce no clima do planeta, a Amazônia é imprescindível. Pelas ameaças à sua integridade, pelos ataques à sua natureza, a situação da Amazônia é preocupante.

Por tudo isto, a Amazônia se tornou um grande desafio.

Inquieto com os sinais evidentes de desequilibro ambiental, o mundo olha para a Amazônia, e manifesta o impulso de se sentir responsável por ela. Em sua canção sobre a Amazônia, Roberto Carlos capta bem este sentimento universal, relacionando “Amazônia” com “insônia”. Ela se tornou, de fato, a insônia do mundo, que teme o aquecimento global e aspira abrigar-se à sombra da selva amazônica!

Mas quem, em primeiro lugar, deve se preocupar com a Amazônia é o Brasil. Nosso país foi agraciado com mais da metade da Amazônia continental. Agora precisa despertar para a responsabilidade de assumir e integrar seu território amazônico em sua nacionalidade, sob risco de perder o domínio sobre ele.

Sem a Amazônia, o Brasil não só reduz sua dimensão geográfica pela metade, mas perde seu status de grande país e sua relevância mundial. Sem a Amazônia, viramos uma insignificante república sub tropical. A Amazônia nos confere o direito a tratamento vip no cenário mundial. Mas isto tem o seu custo, que precisa ser assumido e honrado com pontualidade. Infelizmente, ainda não nos damos conta da dimensão de grandeza que a Amazônia confere ao Brasil, que se transformaria em atestado de incompetência se não soubermos corresponder a esta grandeza com uma ação responsável e qualificada.

O perigo maior e mais iminente é a cobiça internacional se revestir de zelo pela preservação da Amazônia, para submetê-la aos interesses de sua exploração. Por isso também que o Brasil tem a urgente tarefa de se mostrar capaz de zelar por seu território amazônico, e por sua função ecológica mundial.

Mas também a Igreja do Brasil está diante de um claro desafio. Ela é chamada a assumir a evangelização da Amazônia. Não pode mais dormir tranqüila, na convicção de que a Amazônia está segura sob os cuidados de sua pródiga natureza. Cabe à Igreja do Brasil levar o Evangelho de Cristo aos povos da Amazônia, animando-os a assumirem sua própria vida eclesial, garantindo a vocação especial que Deus confiou a esta imensa região do mundo. Os missionários estrangeiros já fizeram sua parte. Agora é a vez dos missionários brasileiros.

Percebendo o tamanho do desafio, e a urgência de buscar soluções concretas, a CNBB decidiu promover, em cada ano, uma “Semana da Amazônia”. Esta iniciativa não pode se limitar a resultados perfunctórios, sem conseqüências práticas. Deve suscitar um verdadeiro mutirão em favor da Amazônia, que a comissão de bispos escolhida para esta finalidade precisa urgir e cobrar.

De pesadelo e insônia, a Amazônia precisa fazer parte de nossos sonhos e de nossos compromissos.

(*) www.diocesedejales.org.br

 

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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