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No dia 25 de junho recebi, com muita alegria, um e-mail do INSS comunicando que minha aposentadoria estava aprovada. Feliz com a notícia, mal tive tempo de curtir quando, no dia seguinte, começaram os famigerados telefonemas, vindos de todas as partes do Brasil, oferecendo empréstimos.

Só quem já se aposentou pode saber que não estou exagerando quando digo que, desde então, já recebi perto de cem telefonemas de operadoras de empréstimos, de pessoas se dizendo funcionária do INSS, além de mensagens por SMS e até pelo correio.

Quando uma pessoa se aposenta de alguma forma, com certeza ilegal, alguém informa a esses predadores do parco dinheiro que se passa a receber, dados que deveriam se confidenciais, como nossos números de telefone, nome completo, endereço e, o que é ainda pior, o valor do benefício.

Tenho amigos que souberam que a aposentadoria havia saído pelo banco que ligou oferecendo empréstimo. Um outro ficou sabendo para que o banco o benefício havia sido enviado e o valor por um desses escritórios associados a grandes bancos, exatamente para ir atrás de nosso dinheiro.

O empréstimo consignado é uma forma segura que os abutres financeiros têm para emprestar dinheiro, pois, como todos sabem, a prestação já vem descontada do benefício. Vi uma reportagem há algum tempo com aposentados que estavam com a corda no pescoço exatamente por causa desses empréstimos. Fazem o primeiro, daí quando recebem o benefício líquido não dá para pagar as contas, daí fazem outro empréstimo para pagar o empréstimo e isso vira uma bola de neve que acaba por esmagar as finanças e a pessoa não recebe mais nenhum tostão, só pagando empréstimos.

Tentei denunciar ao banco central, mas é um protocolo tão grande para conseguir fazer a denúncia que desisti. Talvez esse seja o objetivo mesmo da colocação de dificuldades. Talvez seja porque os portais governamentais são, de uma maneira geral, de acesso complicado mesmo.

Já me disseram para fazer uma reclamação no Procom. Enfim o fato é que até o momento eu não encontrei onde denunciar esse abuso e invasão de privacidade e, o mais grave, o compartilhamento dessas informações confidenciais por parte do INSS.

Desde o final do mês de junho que não atendo mais a números que não estejam na minha lista. Mesmo que indiquem que sejam ligações locais. Todas as vezes que atendi me aborreci. Quando reclamo que isso é um absurdo, é invasão e tal, desligam na minha cara. A quantidade de números que tenho bloqueado ultimamente não é brincadeira. E a perda de tempo?

Acredito que o INSS deveria ser processado pelo vazamento de informações confidenciais, como instituição mesmo. E a partir daí eles que investigassem para saber de onde acontece o vazamento.

Vocês já imaginaram o que é um sem números de instituições financeiras, operadoras e afins, tendo todos os seus dados, incluindo CPF? Isso é crime. É preciso dar um basta nisso. O INSS não tem o direito de vazar essas informações. Imagino que muita gente deva estar ganhando muito dinheiro escancarando os nossos dados. Isso é crime grave. Sobretudo para funcionários públicos. Deveria dar demissão e cadeia.

Como se não bastassem todos os abusos que os aposentados e aposentadas vêm sofrendo ao longo dos anos. Se não vejamos:

A Lei 6.950/81, que vigorou até 30.06.1989, daria, em valores de hoje, um benefício a quem se aposentasse pelo teto máximo de algo em torno de dezenove mil reais. Essa lei foi revogada e substituída pela Lei n. 7.789, que reduziu o teto de 20 para 10 salários mínimos. A partir de então, também em valores de hoje, a aposentadoria pelo teto máximo equivaleria a algo em torno de nove mil e quinhentos reais. Porém, em algum momento da triste história desse país, o valor da aposentadoria deixou de ser baseado no salário mínimo e passou a ser calculado e pago em “salário referência”. Ninguém pode receber menos do que um salário mínimo. Mas o valor máximo de aposentadoria hoje é de R$ 5.645,80. Ou seja, uma pessoa que contribuísse pelo teto máximo até 1989, receberia quase quatro vezes mais do que hoje em dia. Em tempo esses valores só valem para os funcionários de empresa privada ou autônomos que podem ganhar cem mil por mês, mas, ao se aposentar receberão no máximo esse valor. Para funcionários púbicos as regras são diferentes. Alguns recebem o salário equivalente ao da sua função na ativa. Em tempo dois, para os funcionários dos três poderes as regras são muito diferentes e os salários … nem vou comentar.

Enfim a realidade do aposentado comum é essa: um mínimo de R$ 954,00 e o máximo de R$ 5.645,80, com reajustes em torno de 2% ao ano, quando muito, de vez em quando são chamados de vagabundos e de responsáveis pelo buraco do INSS e ainda têm que encarar o vazamento de seus dados pessoais para centenas de desconhecidos. Situação irritante e injusta. Concordam?

Portanto companheiros e companheiras aposentados e aposentadas ou que estão em vias de se aposentar, lanço aqui um desafio: vamos nos unir e descobrir uma forma de processar o INSS ou outra coisa que seja, que acabe com esse vazamento de informações.

A gente já recebe quase nada, mal dá para sobreviver e ainda ficam os abutres financeiros querendo comprometer o nosso parco dinheirinho?

Aposentados e aposentadas do Brasil uni-vos. Vamos à luta pelo respeito à nossa privacidade e ao nosso dinheiro.

Obs: A autora é jornalista, blogueira e Assessora de Comunicação do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Imagem enviada pela autora.

Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.


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