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(para Orides Fontela – 1940-1998)
Todo esse excesso
enquanto você
só queria o menos.
Mas até o menos
veio em excesso
e você não suportou.
A saída – única saída –
foi tentar decifrar
o enigma da vida e do destino
com uma poesia pontiaguda
e substantivada,
diante de tanta e sufocante
adjetivação.
Um verso inclassificável espalhou,
vazio de quaisquer
bairrismo,
regionalismo,
nacionalismo,
biografismo,
confessionalismo
ou psicologismo.
Livre de bandeiras
política,
estética
ou ecológica.
E além
do panfletário,
do anedótico,
da retórica,
e da provocação.
Mas o golpe fatal estava escrito
na sua não beleza física
e na sua inadequação ao mundo.
O Amor vital,
o romântico,
você não conheceu,
apesar de toda a filosofia
que copiosamente estudou.
Senhora da síntese metalinguística,
deixou atravessada neste mundo
uma poesia densa,
sintética e tensa.
O jeito que encontrou
para confrontar este mundo
que lhe veio enviesado,
foi se esconder no verbo,
deixando o protagonismo da palavra
calar o máximo possível
o seu lirismo.
Poeta cabralina de saias,
tentou na antilírica
atenuar um lirismo
cortante e fragilizador.
E quando sacou que isso aqui
é um grande playground dos deuses,
tentou no zen budismo
uma dose de equilíbrio.
Mas, auto-sarcástica,
ironizou que só conseguiu um pisca-pisca
na busca da iluminação.
Assim,
passou por essa vida
e não decifrou o enigma,
porque era, você mesma,
Orides,
a própria esfinge.
Deixou-nos o seu poema
entre o abstrato e o concreto,
e que tem como metáfora
o silêncio.
Como a nos lembrar eternamente
do não dito,
do calar Wittgensteiniano,
dizendo tanto
e até o que não se consegue
em palavras,
danadamente.
Obs: Imagem enviada pelo autor (Ilustração: http://saopauloreview.com.br)