8 de junho de 2009
Um filme norte-americano, em estilo de comédia, que sempre volta às emissoras de televisão é “Do que as mulheres gostam”. A partir do título e de algumas propostas do roteiro, vê-se que, embora dirigido por uma mulher, o filme é feito em uma perspectiva masculina e não escapa de certa caricatura do feminino. Seria interessante um filme que falasse do amor como a capacidade de uma pessoa sintonizar com o outro diferente e penetrar na sua sensibilidade e sentimento. Nestes dias em que a sociedade e o comércio promovem o dia dos namorados, todo mundo sabe que mais do que um presente comprado em lojas, o que as pessoas mais querem é compreensão e diálogo. Certamente, o tempo de namoro poderia servir para um treinamento intensivo desta capacidade de mútua compreensão.
A sociedade em que vivemos ainda chama de “fazer amor” o “ficar, por um momento, com alguém”. A minha geração, em geral, era mais liberada no sentimento do amor e mais reprimida no terreno sexual. Facilmente, nos apaixonávamos por Doris Day, Marilyn Monroe ou por uma outra estrela de Cinema. Mas, no plano sexual, não tínhamos tanta liberdade. Hoje, ao contrário, a juventude parece mais liberada no plano da sexualidade, mas, em geral, tem medo de amar. Este medo se justifica sob o pretexto de que o amor nos torna mais frágeis, nos expõe a desilusões e nos desnuda no mais intimo do ser. Sem dúvida, isso é verdade, mas como diz um poema do Vinícius, falando dos filhos: “Eles nos dão todo tipo de trabalho, os filhos, mas se não os temos, como sabemos?”. O amor é sempre uma felicidade, mesmo se for uma felicidade doída.
O dia dos namorados lembra o amor na sua primeira força e proposta. É pena que romances, novelas e filmes, geralmente, mostrem o amor de forma tão idealista e perfeita que corremos o risco de absorver este modelo como uma exigência diária para nós. As pessoas tendem a exigir do outro que seja perfeito e revele um amor eterno, heróico, romântico e arrebatador. Quando isso não é alcançado, o que é normal, porque o ideal nem sempre corresponde ao real – as pessoas se desiludem e até, às vezes, desistem de viver o amor. O ideal “perfeccionista” e idealista de amor acaba impedindo a vivência do amor em suas formas mais simples e humanas.
O namoro é tempo de experiência. Há um aspecto natural no amor, um tcham, para o qual ninguém precisa ter curso ou aprender como se vive, porque é universal e quase instintivo. Mas, existe outro elemento que é o compromisso existencial e este sim pede preparação e maturidade. St Exupéry já dizia: “Tu te tornas eternamente responsável por alguém que cativas”
O amor é como fonte que alimenta muitos rios e riachos. Existe amor de pai e mãe, amor de irmãos, amor de amigos, amor de namorados. Tudo é água da mesma fonte. Apenas variam as expressões e a fundura do rio por onde a água do amor se espalha. Em algumas religiões orientais como o budismo e também na tradição católica, quem decide viver o celibato precisa deixar claro para si mesmo e para os outros que não está renunciando a amar e sim a se fechar sobre aquele amor de forma exclusiva. Não pode e não deve ser menos humano do que quem se apaixona. Tem de assumir o humano e buscar ir sempre mais além, na capacidade de amar de forma altruísta e mais universal.
É importante que os pais aceitem que os filhos façam as experiências que um dia, eles se deram o direito de viver. No livro do Êxodo, é dito que “Deus não conduziu o seu povo da escravidão do Egito à terra prometida pelo caminho dos filisteus – que era o mais curto, porque pensou que o povo poderia se arrepender no meio do caminho. Fez o povo dar voltas durante 40 anos no deserto…” (Ex 13, 17- 18). Nas aventuras da vida, todos temos o direito de dar algumas voltas e desvios, antes de encontrar o caminho certo. Os pais e educadores precisam compreender isso a respeito dos filhos e dos jovens que acompanham, assim como estes precisam aceitar que, para amar não existe idade. A sociedade idealiza o amor dos jovens. Muitas vezes, se pensa que namoro diz respeito quase exclusivamente a adolescentes. Entretanto, muitos se sentem com o direito de viver este mistério em idade mais adulta. É preciso que os filhos aceitem que pais e mães, principalmente aqueles que não puderam continuar vivendo juntos o casamento continuem vivos e abertos ao amor. Afinal, de acordo com todos os caminhos espirituais, quem vive o amor, vive um mistério divino. Na Bíblia, a primeira carta de João nos diz textualmente: “Deus é amor. Quem vive o amor, permanece em Deus e Deus vive nele ou nela” (1 Jo 4, 16).
Ao contar que, no mundo, existe um anel que dá o poder a quem o possui, o filme “O Senhor dos Anéis” é uma alegoria que contém profunda verdade. No dia dos namorados, os rapazes que dão a suas namoradas um anel de compromisso e os já namorados que celebram seu compromisso em torno de um anel revelam o valor deste símbolo universal e nos fazem refletir sobre o amor, único mistério que realmente dá poder real a quem o vive. Que poder? Será que dá mesmo?
Contraditoriamente, em uma cultura na qual “fazer amor” é sinônimo de “ficar, por um momento, com alguém”, amar dá mais medo do que qualquer outra coisa. Nada provoca tanto medo nas pessoas do que o amor. Ele nos torna mais frágeis, nos expõe a desilusões, revela nossas carências, nos desnuda em nossos medos e nossos desejos mais íntimos. Entretanto, por mais que os tempos mudem e a cultura evolua, dentro de nós, o coração continua dizendo que só o amor pode nos tornar felizes.
Contraditoriamente, em uma cultura na qual “fazer amor” é sinônimo de “ficar, por um momento, com alguém”, amar dá mais medo do que qualquer outra coisa. Nada provoca tanto medo nas pessoas do que o amor. Ele nos torna mais frágeis, nos expõe a desilusões, revela nossas carências, nos desnuda em nossos medos e nossos desejos mais íntimos. Entretanto, por mais que os tempos mudem e a cultura evolua, dentro de nós, o coração continua dizendo que só o amor pode nos tornar felizes.
É claro que o amor é como uma fonte que alimenta muitos rios e riachos. Fala-se em amor de pai e mãe, amor de irmãos, amor de amigos, amor de namorados. Tudo é água da mesma fonte. Apenas variam as expressões e a fundura do rio por onde a água do amor escorre. Em algumas religiões orientais como o budismo e também na tradição católica, quem decide viver o celibato precisa deixar claro para si mesmo e para os outros que não está renunciando a amar e sim a se fechar sobre aquele amor de forma exclusiva. Não pode e não deve ser menos humano do que quem se apaixona e sim assume o humano e busca ir além na capacidade de amar de forma mais universal.
O dia dos namorados lembra o amor na sua primeira força e proposta. É pena que romances, novelas e filmes tendam a mostrar o amor de forma tão idealista e perfeita que absorvemos este modelo como exigência para nós. Quando não o conseguimos, – e isso é normal porque não corresponde ao real – nos decepcionamos e meio desistimos de viver o amor. É como se um ideal “perfeccionista” e idealista de amor acabasse impedindo as pessoas comuns de viverem o amor em suas formas mais simples e humanas.
É importante que os pais aceitem que os filhos façam as experiências que um dia, eles se deram o direito de viver. É preciso que os filhos aceitem que os pais e mães, principalmente aqueles que não puderam continuar vivendo juntos o casamento, continuam vivos e abertos ao amor. Mas, como dizer aos próprios filhos que o amor nos tocou de novo?
(*) Monge beneditino, teólogo e escritor.
Este texto expressa exclusivamente a opinião do autor e foi publicado da forma como foi recebido, sem alterações pela equipe do Entrelaços.
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